[Resenha] Homem-aranha: De volta ao lar

Cartaz do filme Homem-aranha de volta ao lar
Cartaz do filme Homem-aranha de volta ao lar. Créditos da imagem: IMDB

Como primeiro texto desse projeto pensei em fazer o primeiro texto sobre o super-herói mais clássico de todos, o Super-homem, porém o coração falou mais alto e resolvi falar sobre o meu super-herói preferido (aproveitando também que ele teve um filme no cinema recentemenete). Então aqui vai minha opinião sobre “Homem-Aranha: De volta ao Lar”.

Primeiro vamos falar sobre os atores: Tom Holland está muito bem no papel de Homem-aranha. Consegue enganar bem como Peter Parker, um colegial que adquiriu poderes. A atriz Marisa Tomey, que interpreta a tia do Homem-Aranha me incomodou um pouco. Não entendi a escolha de uma atriz tão jovem para o papel. Claro que é condizente com a idade do personagem de Holland mas ainda assim não me convenceu, ficou pra mim no um Q de descrença. O elenco de apoio da escola está OK. Destaque para o amigo Ned de Peter, que não existia nos quadrinhos mas que serviu como um bom alívio cômico no filme. Fica óbvio e até aceitável que tenha havido uma transformação para tornar os coadjuvantes mais diversos do que no original. Particularmente me incomodaram o Flash Tompson, que de bully de Parker passou a ser só um cara chato, e a M.J. que eu acho que foi colocada ali só pros velhacos, tipo eu, cutucarem a pessoa do lado e falarem “M.J. é o nome da mulher do Homem-aranha, quer dizer, isso antes do pacto, mas depois te explico”. Se houver continuação fico curioso com o destino da personagem já que ela não tem nada a ver com a M.J. dos quadrinhos.

Robert Downey Jr. tem bastante tempo de tela no filme. Tempo demais. O que me faz pensar na teoria que eu li por aí que a Marvel queria cansar o personagem para os expectadores a fim de que os mesmos aceitassem a sua morte em um futuro filme dos Vingadores. Considerando o salário alto do ator e que o herói, por usar uma armadura, poderia ser substituído por outro personagem (que continuaria a ser o Homem de ferro) não acho impossível.

Por último mas não menos importante tem a cereja do bolo Michael Keaton como o Abutre. E eu fiquei realmente feliz de como fizeram o uniforme do personagem, ja que o original é beeeem tosco. O ator está muito a vontade no personagem. E o público, sabendo que o ator já fez o Batman e o filme Birdman deixa suas cenas mais divertidas ainda. Além disso o vilão é mais crível que a média e embora não seja perfeito fica como um dos melhores vilões da Marvel até o momento.

O uniforme clássico (e meio tosco) do vilão Abutre
O uniforme clássico (e meio tosco) do vilão Abutre. Créditos da imagem: marvel.wikia.com.

A história em si é relativamente simples: depois da batalha de Nova York, ocorrida no primeiro filme dos Vingadores, ficou sucata de ET espalhada por toda a cidade. Inicialmente uma empresa, cujo dono é Adrian Toomes (o Abutre), é escolhida para limpar a sujeira. Depois os federais percebem que isso pode não ser uma boa ideia e do dia pra noite cassam o contrato de Toomes, deixando ele bolado. Em função disso, ao invés de procurar outro empreendimento como um bom cidadão, o Abutre (fazendo jus ao nome) decide pegar alguns espólios que estavam com ele, fazer um tipo de engenharia reversa na sucate e produzir armas a partir daqueles objetos que depois começam a ser vendidas para ladrões pela cidade. Após impedir um assalto a banco com uns criminosos usando essas armas o Homem-aranha passa a investigar o caso (embora o Homem de Ferro mande ele deixar o trabalho pra outros heróis mais experientes) e isso coloca o Aranha em rota de colisão com o abutre.

Uniforme do vilão Abutre no filme do Homem-aranha. Créditos da imagem: IMDB.

Um diferencial do filme, em relação aos anteriores, foi o uniforme do Homem-aranha. No filme o Homem de Ferro dá um uniforme bem tecnologico pro Homem-aranha (com direito até a assistente virtual) e isso gera algumas cenas bem engraçadas com o Homem-aranha se atrapalhando com as possibilidades do uniforme novo.

O filme é bonito, tem coadjuvantes bons, um vilão interessante …. então é um excelente filme do Homem-aranha? NÃO, porque me parece que faltou um pouco da carga dramática do Homem-aranha. Onde foi parar o Tio Ben e “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”? Analisando superficialmente o Homem-aranha é um herói engraçado e bem com a vida. Mas na origem e no cerne do personagem há pelo menos uma grande tragédia, a morte do seu tio (entre outras ao longo do tempo). Pra quem não se lembra, o Homem-aranha, logo após ganhar os poderes decide usá-los pra ganhar dinheiro (praticamente participando de um UFC da vida). E em um dessas noites, o local onde ele estava lutando é assaltado e ele fala (ou age como quem diz): “antes ele do que eu” e não faz nada pra parar o ladrão, que passa na frente dele. Pouco tempo depois esse mesmo ladrão mata um velhinho em um assalto e ficamos sabendo que esse velhinho era o tio do Homem-aranha (que é praticamente um pai dele já que Peter Parker é orfão). Peter então aprende que “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” e esse vira praticamente o lema do herói. Claro que isso já foi retratado nos outros filmes e não acho que precisava ser mostrado explicitamente no filme novo. O problema é que quase não há referência ao tio de Peter. E dado que o Homem-aranha é retradado como jovem no filme entende-se que isso ocorreu há pouco tempo. Mas isso não influencia de maneira nenhuma a história ou o personagem principal. Em momento algum é retratado Peter Parker com remorso pelo seu tio ou como se tivesse aprendido a grande lição “Com grandes poderes …”. Pelo contrário, Peter é bem irresponsável durante o filme todo e alguns atos do filme é que tentam servir como lição.

Pra mim um dos pontos chave do personagem é que não é fácil ser o Homem-aranha, mas de forma consciente o personagem decide ser o herói MESMO com as dificuldades e por isso mesmo ele é tão inspirador. No cânone do personagem ele salva os seus bullies (Flash Tompson, por exemplo, que foi bastante modificado), perde empregos e oportunidades profissionais e tem problemas diversos com as namoradas (pontualidade nos encontros nunca foi o ponto forte de Peter Parker). Esse Homem-aranha não tem esse peso. Pelo contrário, ele banca o Homem-aranha e tudo fica bem, ou até melhor, por causa disso. Por exemplo na competição de soletrar, Peter quase faz o time perder mas mesmo assim ninguém da equipe fica magoado com ele.

Por causa disso saí do filme com a sensação que vi um ótimo filme de um super-herói genérico. É de se imaginar se o diretor leu pelo menos a história de origem do personagem para descaracterizá-lo dessa maneira. O filme vale o ingresso mas se houvesse um pouco mais de culpa e referências ao tio Ben (e menos Tony Stark) pra mim seria bem melhor.

Bom, essa foi minha opinião sobre o filme, abaixo seguem alguns comentários soltos sobre algumas cenas mais específicas que podem estragar sua experiência se você ainda não viu o filme. Prossiga com cautela.

Spoilers zone

Uma das cenas mais engraçadas do filme pra mim foi aquela em que ele fica preso em um depósito e parece que se passaram horas, até que o Homem-aranha pergunta pra sua assistente quanto tempo passou e ela fala: “20 minutos”. Alias, o filme é bem engraçado. Outra cena bem legal foi aquela que ele fica preso sob escombros e que é referência a uma história clássica onde isso também ocorre. Gostei da referência ao vilão Escorpião (um dos sujeitos que quer comprar armas do Abutre). O Escorpião é um vilão clássico do Homem-aranha que tem um visual muito legal e sempre teve grandes lutas com o Aranha. Só não sei se ele seguraria sozinho um filme inteiro, pois ao menos nos quadrinhos o Escorpião não é nenhum gênio do crime.

Capa da revista do Homem-aranha com a história "Se esse é meu destino ..."
Capa animada da revista do Homem-aranha com a história “Se esse é meu destino …”.

O fato do vilão ser o pai da garota de quem o Peter gosta é um pouco forçada mas rende outra cena ótima que é a cena do carro onde o Abutre descobre que Peter é o Homem-aranha. Pra concluir tem uma coisa me deixou meio em dúvida: Tem uma cena em que o Abutre diz que se o Homem-aranha interferir ele vai ir atrás do Aranha e de toda a família dele e que ele é mau como o pica-pau. No entanto na luta final o Abutre tem pelo menos uma chance de acabar com o seu adversário e não o faz. Além disso, na cena pós-créditos ele não revela a identidade do Homem-aranha. Fiquei me perguntando: foi falha do roteiro/diretor em retratar o vilão ou foi proposital e eles queriam mostrar que no fundo o Abutre não é tãão mal assim?

[Resenha] A Revolta de Atlas

Aproveitando que hoje, 10 de outubro de 2017, é o aniversário de 60 anos do livro “A Revolta de Atlas” (Atlas Shrugged no original) resolvi desengavetar uma resenha que estava até então incompleta.

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O livro é um calhamaço de mais de 1200 páginas e portanto não considero uma leitura fácil. Felizmente ele volta e meia está em promoção no Submarino[1] (olhei agora e está praticamente R$50,00, se depois dessa resenha ficar em dúvida vale a pena esperar baixar um pouco – já vi o livro por cerca de R$25,00). Será que alguém está subsidiando o preço? Seriam os irmãos Koch? (Não vou postar links aqui pois não quero que vocês peguem câncer mas tem quem acredite que eles “patrocinam” a “direita” no Brasil.)

Pano de fundo do livro

É importanto dizer que Ayn Rand a escritora nasceu na Rússia e filha de pequenos comerciantes emigrou para os EUA ainda jovem. No entanto percebe-se facilmente nesse livro uma percepção bastante crítica da “revolução russa” por parte da autora. Além disso o livro é muito conhecido nos EUA. No próprio prefácio da obra diz que é obra de cabeceira de muitos empresários e empreendedores e seria a segunda obra mais influente daquele país ficando somente atrás da Bíblia.

Realmente a influência de Ayn Rand encontra-se espalhada pela cultura pop. Como alguns exemplos podemos encontrar referências a autora até no jogo BioShock[2]. Também foi noticiado que Ayn Rand é a leitura de cabeceira de Travis Kalanick[3], CEO do Uber. A escritora e filósofa também é citada explicitamente no álbum 2112[4] da banca de rock canadense Rush.

A história

O livro se passa em um futuro próximo onde quase todo o mundo é governado por tiranos populistas (qualquer semelhança com a Venezuela não é mera coinciência) mas trama em si se passa quase que totalmente nos EUA, a única nação onde ainda existe algum resquício de democracia e capitalismo no mundo do livro. A partir daí a premissa básica do livro começa a ser desenvolvida: E se as maiores mentes e líderes (empreendedores, cientistas, artistas e demais profissionais de destaque) do mundo começassem a desaparecer um por um? No livro isso leva a uma situação cada vez mais caótica, já que as pessoas que restam são somente burocratas que mal sabem botar a “mão na massa”.

Aspectos negativos

Conforme eu disse antes o livro é um calhamaço. Infelizmente em alguns momentos a história parece que não avança muito ou o faz lentamente, então me parece que seria possível resumir o livro sem perder muito para 1/3 do volume do mesmo.
Outra coisa que me incomodou foram os vilões, ou antagonistas: todo mundo parece incrivelmente burro e incapaz de ver onde vão dar as consequências dos seus atos. Fico na dúvida se essa retratação dos burocratas e inimigos foi proposital ou involuntária.
Por último entre os lados negativos eu citaria que o livro tem uma ou outra cena mais picante (nada que não apareça na novela da Globo hoje em dia), mas eu não entendi muito bem o que a autora queria com essas cenas, já que para mim elas não acrescentam muito na trama.

Aspectos positivos

É uma obra profundamente inspiradora, especialmente para quem se interessa por empreendedorismo e inovação. O livro tem quatro pontos altos, que são quatro discursos dados por quatro personagens diferentes. Nesses discursos é possível vislumbrar e admirar o sistema filosófico da autora que é muito interessante e consistente.

A premissa é absurdamente incrível e até me espanto que não tenha sido copiada em outras obras: o que acontece quando as pessoas que movem o mundo entram em greve?

Veredito

Até mesmo por se tratar de um livro longo e denso levei praticamente um ano lendo “A Revolta de Atlas”. Ao menos pra mim a leitura dessa obra foi uma experiência transformadora. Não li outras obras da autora mas esse livro me fez repensar muitas coisas da minha vida.

Da mesma maneira muitas pessoas que eu conheço se sentem de maneira semelhante à essa obra. É verdade que também a obra tem muitos detratores (se viram refletidos nos antagonistas talvez?) mas poucos ficam indiferentes a mesma.

Nenhuma outra obra que eu conheço retrata tão bem o aspecto heróico e mítico do empreendedor. Penso que essa obra pode e deve ser lida especialmente por quem empreende até mesmo para entender melhor o seu papel no mundo e redobrar a força para enfrentar seus desafios diários.

Recomendo a leitura, especialmente aos empreendedores, no sentido mais amplo da palavra. A todos os Atlas que carregam o mundo nas costas e muitas vezes nem se questionam sobre isso. É hora de se rebelar também?

Links da postagem:

[1] http://www.submarino.com.br/produto/7297920/livro-box-a-revolta-de-atlas-3-volumes-

[2] https://en.wikipedia.org/wiki/BioShock

[3] http://www.businessinsider.com/how-uber-ceo-travis-kalanick-was-inspired-by-ayn-rand-2015-4

[4] http://www.rush.com/2112-spotlight-on-ayn-rand/