Leituras (com micro-resenhas) de 2023


Livros

Senhor dos anéis: A sociedade do anel (J. R. R. Tolkien)

Por muitos anos eu deixei passar Tolkien, em parte porque não sou o maior fã de fantasia “medieval” (dragões e etc) do mundo. Em parte porque sempre falavam que o autor era exageradamente detalhista. Em 2023 os livros da trilogia ficaram facilmente acessíveis e aproveitei pra ler. E não é que gostei? Uma jornada realmente épica e cheia de momentos emocionantes. E não é achei chato em nenhum quase nenhum momento. Ok. A parte do Tom Bombadil realmente é meio desnecessária.

Crime e castigo (Fiódor Dostoiévski)

Outro livro clássico que peguei para ler e ficou justificado porque é tão famoso. Uma leitura bem agradável apesar de que no começo estranhei um pouco os nomes dos personagens. Claro que o plot (e isso não é spoiler porque acontece logo no começo do livro) do assassino corroído pela culpa pode até soar ligeiramente batido mas isso só mostra a influência do clássico no imaginário popular. De qualquer maneira é muito bem escrito então a leitura flui muito bem.

O que deve ser feito? (Hans-Hermann Hoppe)

Talvez esse tenha sido o livro mais fraquinho que eu li ano passado. O autor passa mais tempo descrevendo o Estado e seus problemas (o que pra mim não é novidade) do que propondo alguma ação. Então achei que deixou a desejar um pouco em função do que eu esperava dele. Por ser um livro bem curtinho pode valer a pena para quem não conhece muito sobre libertarianismo.

Além da ordem (Jordan Peterson)

Eu realmente gostei bastante do livro anterior do Peterson então fui esperando bastante para esse aqui e fiquei um pouco decepcionado. O livro é uma espécie de continuação do anterior e seus “Regras para a vida” do Jordan Peterson. Mas tanto parece que as “regras” mais interessantes ficaram no livro anterior como o próprio Peterson não faz uma defesa tão interessante de cada uma das regras. Acho que isso se reflete até no tamanho do livro que é consideravelmente mais fino. Parece um livro encomendado com base no sucesso do anterior. Diferente do anterior que eu recomendo esse aqui sugiro só para quem já conhece e aprecia o autor. Aqui ele segue escrevendo de forma clara e até interessante porém menos inspirada.

Led Zeppelin: Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra (Mick Wall)

Biografia bem legal sobre o Led Zeppelin (que até me fez revisitar/re-apreciar o álbum Led II). A biografia é bem completa mas achei que deixou um pouquinho a desejar no final, quando fala sobre a morte do baterista John Bonham. Quando chega nesse momento o livro termina. Por causa disso não sei se é a obra definitiva sobre a carreira do Led (não que eu tenha lido outras :P) mas é muito legal saber mais sobre os bastidores dessa incrível banda.
Fato curioso: Enquanto eu estava lendo essa biografia um amigo estava lendo um livro do mesmo autor falando sobre o Foo Fighters e fez uma postagem bem crítica a respeito no Facebook. Achei um pouco estranho pois eu estava gostando bastante da leitura. Fui pra Wikipédia e descobri que nos últimos anos o autor escreveu inúmeras biografias sobre bandas de rock. Mais de uma em alguns anos. Particularmente esse do Foo Fighters (que eu não li) foi escrita em 2015. Ano que o autor escreveu três livros. Acho que isso explica, em parte, a perda de qualidade. Mas essa do Led me pareceu (sic) bem mais caprichada.

HQs

Agente X: edição especial encadernada (artistas variados, principalmente Gail Simone e Alvin Lee)

Se eu já não gosto muito do Deadpool imagina então uma espécie de clone do Deadpool. E o pior que o Mercenário (taskmaster) ainda é coadjuvante na série e o cara é escrito como se fosse um adolescente. A minha sorte foi que não gastei nada com isso já que ganhei a edição de um amigo que estava querendo passar para frente algumas obras (entendi porque ele quis doar essa :P)

Batman e Juiz Dredd: A charada definitiva (Alan Grant, John Wagner, Carl Critchlow e Dermot Power)

Não que crossovers entre heróis sejam conhecidos por sua qualidade mas esse aqui se puxou também. Batman, Dredd e outros coadjuvantes de outros planetas/universos são puxados para um planeta-arena e o sequestrador deles diz que só o vencedor vai ser levado de volta. A pergunta que surge é: “Por que, de todos os personagens do universo DC, o sequestrado foi o Batman?”; Depois da clássica luta e posterior união entre Batman e Dredd a resposta é que o sequestrador é um inimigo do Batman (que ganhou poderes de forma totalmente “Deus Ex Maquina” só pra existir a história). Vale só como curiosidade.

Demolidor por Frank Miller #2 (Frank Miller)

Acho que esse aqui é o auge desse primeiro run do Frank Miller. Embora a Elektra tenha aparecido no volume anterior é aqui que realmente ela se destaca (inclusive batendo de frente com o Demolidor – sem parecer forçado) mas morre logo em seguida. Como o Demolidor já captura o Mercenário logo na sequência dá pra ler esse volume como se fosse uma história fechada praticamente. E embora o vol 3 tenha a ótima história da roleta russa acho que esse volume aqui é o melhor dos três volumes dessa mini-coleção. Se puder comprar só um compre esse aqui. Leitura essencial para fãs de quadrinhos de super-heróis.

Saga do Demolidor #2 (Ann Nocenti e vários desenhistas)

Aqui nesse volume a Ann Nocenti já parece começar a ficar mais a vontade com o personagem e o nível geral do roteiro melhora em relação ao volume anterior. Infelizmente vários desenhistas passam pelo título e as edições acabam não tendo uma uniformidade. Mas segue sendo uma boa leitura. Na expectativa pelo próximo.

Homem-aranha – História de vida especial (Chip Zdarsky e Mark Bagley)

“Homem-aranha – História de vida” é uma das melhores histórias recentes do Homem-Aranha. E aqui é como se fosse um prólogo mostrando o que aconteceu com o J. J. Jameson nessa linha do tempo (pra quem não sabe a proposta é que os personagens fossem envelhecendo com o passar do tempo “real”). História curtinha mas bacana. Vale a leitura.

Coleção Clássica Marvel (CCM) Homem-Aranha #2 (Stan Lee e Steve Ditko)

Segunda edição da CCM dedicada ao Aranha. As coisas continuam bem divertidas e vários vilões clássicos vão aparecendo como por exemplo, o Lagarto.

Coleção Salvat Homem-aranha, números #32 (Venom Voltou”) e #37 (“Pátria em Chamas”) (por David Michelinie e Todd McFarlane)

Botei em um item só pois a equipe criativa é a mesma. Se “Venom Voltou” é muito divertido achei que o roteiro de “Pátria em Chamas” abaixo da média. Acho que o homem-aranha não combina muito com o tema “intrigas internacionais”.

CCM #8 – Homem de Ferro #1 (Stan Lee, Robert Bernstein, Jack Kirby, Don Heck e outros)

Primeira edição do Homem de Ferro. Tal como nas edições de Thor e Hulk basicamente aqui os vilões alternam entre alienígenas e comunistas. Achei que não envelheceu tão bem. E o traço do Don Heck não me agrada muito, remetendo demasiadamente à era de ouro.

Imortal Hulk #2 à #11 (Al Ewing e Joe Bennett)

Gostei tanto de Imortal Hulk #1 que quando tive a oportunidade peguei todas as outras edições. O nível continua alto até a edição #5 que conclui o plot da “Base Sombra”. Depois o Al Ewing até inicia uma trama que parecia interessante com o Hulk fazendo uma espécie de ultimato em prol da ecologia mas aí começa um plot novo com o alienígena Xemnu que achei chatíssimo. Fiquei esperando pelo menos uma briga interessante entre Xemnu x Hulk x Minotauro mas o final do conflito deixa a desejar. Depois o foco volta pro Líder e “Naquele Abaixo de Todos” e a edição #10 encerra bem esse ciclo satisfatoriamente. A edição #11 reune alguns “one-shots” do Imortal Hulk. Esse último volume (#11) interessante mas não acrescenta muito.

Hulk: Futuro Imperfeito (Peter David e George Perez)

Aqui tenho que fazer uma confissão, eu nunca tinho lido na integra essa mini mas ela era tão referenciada na mensal do Hulk que eu já estava familiarizado. Peter David faz um roteiro bem interessante mas acho que a arte de George Perez consegue se destacar. Essa edição ainda trás a história bem interessante “Hulk: O fim”.

Kamen Rider Black (Shotaro Ishinomori)

Mais uma vez eu tentando ler mangás. E mais uma vez não gostei muito. O roteiro pretensamente sério não combina tão bem com a arte meio “fofinha”. E em algumas cenas, de luta principalmente, eu não conseguia entender muito bem o que estava acontecendo sem reler o trecho inúmeras vezes. Até pelo preço alto (é um volume bem grossinho) não pretendo ler a sequência.

CCM #11 – Quarteto Fantástico #2 (Stan Lee e Jack Kirby)

Segunda edição do Quarteto. De cara o Dr. Destino já retorna e se alia (por pouco tempo) com Namor. E ambos retornam em outros números nesse mesmo volume. Não é perfeito mas segue sendo muito divertido e é fácil compreender porque virou um sucesso.

Vingadores: Sem Rumo #1 e #2 (vários artistas)

Esse aqui eu peguei em uma promoção sem esperar muito. Ainda bem. Porque realmente é uma história bem fraquinha onde se salva, como curiosidade, a interação do Conan com os Vingadores. A vilã é genérica e forçada (saída do nada mas ultra-poderosa) e o final envolvendo muita meta-linguagem até é bacaninha mas não soa muito original também.

Star Wars: Made in UK (Alan Moore, Alan Davis, John Stokes e outros)

Aqui nem todas as histórias são do Alan Moore mas eu peguei principalmente por causa dele. Infelizmente acho que não é o melhor trabalho do bruxo. Basicamente nas suas histórias ele mostra os heróis interagindo com entidades poderosíssimas que não se integram muito ao cânone de Star Wars. Esperava que o Alan Moore explorasse melhor os conceitos de força, Sith, Jedi e/ou os personagens clássicos mas não é bem o que acontece. Edição um pouco acima da média.

Poder Supremo (Michael Straczynski e Gary Frank)

Esse aqui quase conta como uma releitura pois eu já tinha lido quase todas as histórias mas foi bom revisitar esses personagens lendo tudo de uma vez. O material é excelente com o porém que o final desse encadernado é meio aberto. A história teve uma continuação mas não é mostrada aqui. Mas da maneira que o volume fecha dá pra considerar um final sim então acho que não tira o mérito da publicação. Leitura muito recomendada.

Saga do Batman #11 e #14 (Mark Wolfman, George Perez e outros – edição #11, Alan Grant e Norm Breyfogle – edição 14)

O número 11 trás o arco “Um lugar solitário para morrer” onde o Batman tem que lidar com o luto da morte de Jason Todd, o segundo Robin, assassinado pelo Coringa (o fato ocorre em uma edição anterior). Em função disso vemos um Batman cometendo alguns erros e se dando mal. Paralelamente somos apresentados a Tim Drake que viria a ser o terceiro Robin. História bem legal.

O número 14 trás histórias diversas em que nenhuma se destaca mas o nível de todas é muito bom. Acho que esse volume mostra que, pelo menos em termos de super-heróis, o Batman teve um período de ótimas histórias no pós-crise. Até mesmo suas histórias “comuns” são muito legais.

Coleção Histórica Marvel #11: Punho de Ferro (principalmente Chris Claremont e John Byrne)

Esse volume trás o começo do arco “Em busca de Collen Wing”. A personagem em questão é mais bem desenvolvida e o Punho de Ferro também. Pena que, segundo li, a revista original não vendia tão bem e foi cancelada. Por isso alguns elementos que aparecem aqui só seriam concluídos em uma edição da revista Marvel Team-up, estrelada pelo Homem-aranha. Volume divertido que marca o começo da parceria de Chris Claremont e Johh Byrne. Mas não chega no nível dos X-men da dupla.

Era do Apocalipse #5 (artistas váriados)

Peguei esse volume principalmente por conta de uma história da “Geração X” desse mundo. Nela, o grupo – aqui comandado pelo Colossus – vai em busca de uma missão para resgatar Illyana, a irmã de Colossus. A missão não termina bem pra equipe mas a história (publicada originalmente em “Generation Next #4” é muito boa). O volume também trás outras histórias da Era do Apocalipse, que não se destacam muito, exceto a história do “Arma-X” (o Wolverine dessa dimensão). O roteiro dessa história é simples mas Andy Kubert está desenhando muito bem aqui. Ler essa história me fez lembrar de porque eu gostava pra caramba do Wolverine, antes dele virar arroz de festa. A média do volume não é muito boa mas as edições da Geração X e do Wolverine salvam a edição.

Coleção Salvat Clássicos: Thor – Contos de Asgard (Stan Lee e Jack Kirby)

Mais uma confissão: eu não gosto muito das histórias solos do Thor. No máximo acho ele um coadjuvante interessante nas histórias dos Vingadores. Mas aqui parece que Stan Lee e, principalmente, Kirby estavam muito inspirados. As histórias se baseiam levemente na mitologia nórdica/européia (tem até uma história que faz menção à história da Chapeuzinho Vermelho hehe) e os três guerreiros adicionam tanto um toque de humor (o “valente” Volstagg está hilário aqui) quanto de perigo. Se o leitor não se preocupa muito pelo Thor (até por serem histórias passadas cronologicamente antes da estréia do personagem então você tem a certeza que vai acabar tudo bem) a presença dos guerreiros ali, aparentemente bem mais frágeis, adiciona um senso de perigo interessante. Destaque negativo para a colorização moderna das histórias que acho que não combina tanto com o traço do Kirby. Mas ainda assim é uma edição bem interessante.

Coleção Salvat Clássicos: Dr Estranho – Uma terra sem nome, um tempo sem fim (Stan Lee e Steve Ditko)

Para ver que não bastam os autores serem interessantes. O personagem é importante também. Embora a arte de Ditko esteja impressionante e alguns coadjuvantes chamem atenção (destaque para Dormammu e Eternidade) não gostei tanto desse volume. Não sei bem porque mas não consigo gostar muito do Dr Estranho. Então aqui acho que entra um pouco o gosto pessoal de cada um. Particularmente não gostei tanto mas acho que outras pessoas podem ter se agradar mais do que eu.

Coleção Salvat clássicos: Homem-aranha – Grandes Encontros Marvel (Chris Claremont e John Byrne)

Quando criança eu gostava muito das histórias em que o homem-aranha encontrava outros heróis. Bem mais tarde eu fiquei sabendo que muitas dessas histórias vinham principalmente de uma publicação separada lá nos EUA chamada “Marvel Team-up” na qual a maioria das edições eram protagonizadas pelo aranha fazendo dupla com pelo menos mais um herói da Marvel. Gostei bastante de ler, dessa vez em sequência, vários desses encontros.

Salvat “Maiores Heróis da Marvel”: Punho de Ferro (principalmente Ed Brubaker, Matt Fraction e Travel Foreman)

Tinha ouvido falar muito bem desse “run” do Punho de Ferro. Achei uma história legal. Mas nada espetacular. Talvez fique melhor depois pois a história não se encerra totalmente nesse volume.

Salvat “Maiores Heróis da Marvel”: Mulher invisível (John Byrne)

Essa edição faz parte do “run” do John Byrne pelo quarteto. Nunca li tudo dele no quarteto somente partes. Sobre essas histórias eu achei uma leitura acima da média mas não me deu tanta vontade de ler o restante dessa sequência, ao menos por hora. Destaque para a ótima sacana do Byrne de mudar o nome de “Garota Invisível” para “Mulher invisível”. Levou só uns 20 e poucos anos 😛

Batman: As 10 noites da besta (Jim Starlin e Jim Aparo)

Mais uma história bem famosa que eu nunca tinha lido. Aqui o Batman tem que enfrentar um assassino da KGB chamado de KGBesta. Embora eu não consiga levar muito a sério o nome e aparência do vilão aqui ele dá muito trabalho pro Batman que tem que se esforçar muito, física e intelectualmente, para parar a onda de assassinatos do vilão, que aqui consegue matar quase todos os seus alvos. Sim, aqui o preparo do Batman não deu muito certo. A história é boa mas reforça minha impressão que o Starlin é melhor trabalhando temas cósmicos.

Eis o KGBesta com seu visual “inusitado”
Fonte: Guia dos Quadrinhos

Batman: Shaman (Denny O’Neil e Ed Hannigan)

Mais outra história bem famosa do Batman. Embora traga alguns conceitos interessantes e se for pensar em termos de cronologia (com tanta Crise na DC nem sei se essa história é canônica ainda) é uma história bem influente mas não gostei tanto. Nem do roteiro nem da arte.

Justiceiro: Born (Garth Ennis e Darick Robertson)

Justiceiro do Ennis sempre é divertido. E aqui temos o Justiceiro “aprontando altas confusões” no Vietnã. Recomendo para quem gosta do Ennis. Não sei se é a melhor história para começar a ler o Justiceiro, apesar do nome, pois aqui o personagem não está em seu “ambiente natural”, que são as ruas.

Duas Vidas (Fabien Toulmé)

Quase todas as HQs dessa lista são sobre heróis e poderes, uma preferência minha. Exceto essa. Mas foi uma leitura que eu gostei bastante. Basicamente a história fala sobre dois irmãos bem normais mas bem diferentes. Até que em um determinado momento um descobre que está com câncer e por causa disso eles decidem passar mais tempo juntos. Bem tocante.

Saga da Liga da Justiça #1 (vários)

Peguei essa aqui para ver se eu fazia a coleção da Liga da Justiça e essa edição não me empolgou. Achei qualquer coisa. Tanto roteiro como arte.

Superman: Brainiac (Geoff Johns e Gary Frank)

História bem legal mostrando uma outra versão do primeiro confronto entre Super-homem e Brainiac. Bem divertida. Só senti falta do visual pré-crise do Brainiac que pra mim é o definitivo.

X-men 2099 #1 e #2 (John Francis Moore e Ron Lim)

Eu nunca li na integra as edições de X-men 2099 então resolvi pegar duas edições da abril para ler desde o começo. Embora seja interessante achei muito menos legal que as histórias do Aranha 2099.

Silver Surfer – Ultimate Cosmic Experience (Stan Lee e Jack Kirby)

Até onde eu pesquisei essa foi a última parceria entre Stan Lee e Jack Kirby. A história é praticamente um “What if?”. O contexto básico é quase o mesmo: Galactus vem pra Terra trazendo seu arauto junto. Novamente aqui o Surfista fica do lado dos humanos porém aqui a Terra não tem mais nenhum outro super-herói então cabe ao surfista sozinho tentar impedir Galactus. Tanto Kirby quanto Lee estão bem “soltos” na história então dê-lhe lamúria do Surfista. Acho que é uma leitura bem interessante, até por ser o último trabalho da dupla lendária. Mas fica um pouco a impressão de que faltou um pouco de originalidade no argumento da história.

Alan Moore: o mago supremo (Caio Oliveira)

Aqui temos uma bela paródia feita por um brasileiro. Na história o Mago Alan Mooroe (sim, é um Dr Estranho misturado com o Alan Moore) tem que enfrentar outros magos sendo que um deles é o Grant Morrison kk Bem engraçado para quem gosta de quadrinhos e sabe um pouco das tretas por trás das histórias. Indicação do Rock & Quadrinhos Scans. Mais detalhes e download no link.

Releituras

“Batman: Ano Um” (Frank Miller e David Mazzucchelli) e “Dr Estranho e Dr Destino: Triunfo e Tormento” (Roger Stern e Mike Mignola): continuam excelentes histórias. Recomendo muito para quem nunca leu.

Salvat Homem-aranha: De volta ao lar (Michael Straczynski e John Romita Jr): reli para decidir se passava adiante essa edição ou não e resolvi ficar com ela mais um pouco (até porque essa edição acho que todo mundo tem e não seria fácil de vender). Aqui temos o começo da idéia dos poderes totêmicos. Para quem não sabe a idéia que o escritor trás é: será que a aranha que mordeu o homem-aranha era uma aranha que era especial por causa da radioatividade ou será que ela já era capaz de transmitir os poderes (de alguma maneira – não explicada até onde eu li) e morreu devido à radição, logo após picar Peter Parker? Nesse arco também aparece o Morlun pela primeira vez. O personagem parece um pouco forçado. Em um determinado momento, o Aranha pensa “nunca ninguém me acertou com tanta força”: isso vindo de alguém que já brigou com todos os pesos-pesados da Marvel. O seu visual também é meio sem graça. A história acaba sendo uma espécie de releitura do clássico “Nada pode parar o Fanático” de Roger Stern. Mas a trama meio misteriosa e com bons diálogos sobre os poderes totêmicos até que não é de todo ruim. Explicando: acho o conceito em si meio ruim mas foi desenvolvido de forma interessante. Até porque lendo somente esse número fica meio no ar se realmente é verdade ou se é só uma teoria maluca do Ezeckiel (que é um personagem com poderes aracnídeos e que fala sobre os poderes totêmicos para o Peter).

Os melhores

Disso tudo se eu tivesse que escolher os melhores, quais seriam?

Entre os livros com certeza “A sociedade do anel”. Lamento só ter dado uma chance para Tolkien agora.

Entre as HQs inéditas fico um pouco em dúvida entre Demolidor do Frank Miller e Poder Supremo. Mas considerando que Poder Supremo tem um final um pouco abaixo do restante da obra o prêmio vai pro vol. 2 do Demo pelo Frank Miller mesmo.

Leituras de HQs de 2022

Mini-resenhas de algumas das minhas leituras de HQs do ano passado

Namor: Rei das trevas – Edição bem fraquinha. Comprei porque li em algum lugar que era legal mas eu não gostei da história

Coleção clássica Marvel #1 – Homem-aranha #1 – As histórias da década de 60 do Homem-aranha envelheceram muito bem. Stan Lee no argumento/diálogos e Steve Ditko no desenho: o melhor da Marvel que levou ela ao que é hoje. Vou seguir pegando as revistas do Homem-aranha.

Coleção clássica Marvel #5 – Hulk #1 – Por outro lado as histórias do Hulk ficaram um pouco a desejar. Se o conflito dele com os militares e a personalidade do personagem, que é um herói relutante aqui, é interessante. Porém o clima típico da década onde os inimigos são comunistas ou aliens na maioria das vezes deixa um pouco a desejar se lidas hoje. Essa coleção não devo seguir.

Coleção clássica Marvel #9 – Thor #1 – As primeiras histórias do Thor, assim como do Hulk, também pesam a mão demais no clima da época. Além disso os poderes do Thor não estão bem definidos então várias vezes o Martelo é usado como um deus ex máquina pra resolver a situação. Das que eu peguei da coleção achei a mais fraca mas ainda assim divertem um pouco.

Saga do Demolidor #1 – O arco é interessante mas ainda parece que Ann Nocenti não sabia muito pra onde ir (e possivelmente era isso mesmo). Devo continuar acompanhando principalmente em função do que deve vir depois. A edição é boa mas não é uma leitura obrigatória.

Saga do Batman #1 – De maneira análoga à Saga do Demolidor esse número do Batman também é meio morno. O destaque fica para uma história, escrita pelo Alan Moore, onde o cara de barro se apaixona por um manequim. Essa história é excelente mas não salvou a edição para mim. Vale mais a pena pegar uma publicação só com histórias do Alan Moore.

Hulk: Além da Redenção – Essa sim valeu cada centavo. Peter David e Todd Macfarlane, uma bela dupla em que roteirista e desenhista se complementam para produzir uma sequência memorável. Destaque para a história que dá título pra edição.

O Imortal Hulk #1 – Realmente esse começo de arco parece muito promissor. Fico um pouco receoso de misturar elementos místicos nas histórias do Hulk mas o resultado até o momento agrada.

Saga do Superman #1 – Saga quando tu ouve falar tanto de algo que a expectativa fica muito alta? Pois é, aconteceu comigo aqui. O desenho de John Byrne está muito bom mas o roteiro acho que deixou a desejar. É um bom arco mas já li histórias melhores do Super-homem

X-men Inferno #1 – Diferente do item anterior aqui eu fui sem muitas expectativas e achei bem divertido o que eu li. Vou seguir acompanhando. Embora, até esse ponto, os caminhos das equipes X-factor, X-men e Novos Mutantes permaneçam independentes achei todas as histórias bem divertidas.

Hokuto No Ken #1 – Embora bem desenhado e famoso achei que essa leitura deixou a desejar. A premissa de misturar Mad Max e Artes Marciais é interessante mas o roteiro básico é repetido inúmeras vezes na edição: um inimigo posa de forte e invencível, aí o protagonista derrota o inimigo sem muito esforço e de maneira bem gore. Repete.

Demolidor por Frank Miller e Klaus Janson #3 – Histórias muito boas do Demolidor no primeiro arco do Frank Miller com o personagem. Destaque para a história “Roleta Russa”. Muito acima da média embora ainda não fique no nível de “A Queda de Murdock”.

Algumas releituras de HQs

Watchmen – É realmente impressionante o quanto eu leio e releio essa obra e sempre tem camadas a se descobrir e a mesma nunca fica chata. É a obra que eu levaria para uma ilha deserta.

Antes de Watchmen: Ozymandias – Embora não fique no nível da obra original é um bom prequel e mesmo em uma releitura segue interessante. Respeita o material original sem ser repetitivo ou bobo.



PS: A lista acima ficou no rascunho por um bom tempo. Inicialmente era para ser a lista de livros e HQs mas eu acabei perdendo tão terrivelmente o timming que nem cheguei a terminar o texto mas como eu já tinha escrito alguns parágrafos acima resolvi publicar com o que eu já tinha. Possivelmente ninguém vá ler mas com um pouco de sorte pode ser útil para alguém procurando informações sobre essas obras.

Minhas leituras em 2021 – Livros

Como possivelmente eu não vou ter tempo e energia para fazer resenhas individuais das minhas leituras do ano passado decidi fazer um post falando brevemente dos livros e histórias em quadrinhos (como estava ficando muito longo deixei pra próxima postagem nunca) que li no ano de 2021, em ordem cronológica aproximada.

Elements of Libertarian Leadership – Leonard Read

Cheguei nesse livro por indicação do Raphael Lima em um dos vídeos dele. Quando ouvi falar dele fiquei bem interessado pois afinal eu tenho interesse em libertarianismo e também em liderança então pensei: “um livro que cubra os dois temas tem muito potencial e como o Raphael recomendou no mínimo deve ser um bom livro” e meus amigos … que decepção!

Sem me estender demais e tentando ser justo talvez em 1962, quando o livro foi lançado, tivesse algum valor mas os pontos interessantes que o autor fala sobre liderança hoje já são totalmente lugar comum, por exemplo, “aprimore a si mesmo para poder liderar melhor”. Para complicar, o autor parte de uma posição extremamente religiosa e apoia toda a sua visão na existência de Deus, inclusive alegando em alguns momentos da obra que você só pode ser “libertário de verdade” se tiver uma crença em Deus.

Não que tenha algum problema em ter posições religiosas mas usar isso para justificar uma teoria política não me parece combinar muito bem.

Não recomendo.

“Anything you want”, “Your Music and People” e “Hell Yeah or No” – Derik Sivers

São três livros mas que talvez algumas pessoas não considerem como livros propriamente (o que define um livro exatamente?). Digo isso pois os “capítulos” são basicamente pequenas postagens em um site que o autor reuniu cronologicamente em três livros e as postagens são praticamente autônomas entre si. Então eu fui lendo algumas postagens por dia e quando vi tinha lido todos os e-books dele que estão no site (ele tem um livro mais recente que, pelo menos até agora, não está disponível no site).

Quem é Derik Sivers? Derik basicamente é um músico esforçado que meio que “sem querer querendo” acabou criando uma gravadora de sucesso. Depois de um tempo ele decidiu que aquilo não era para ele e vendeu tudo e foi morar em algum país minúsculo.

Os textos são curtinhos, gratuitos e tem várias pérolas pra reflexão a partir do que ele viveu onde ele fala sobre a empresa, sobre o trabalho criativo, etc, etc. Minha sugestão: visite o site dele clique em um dos “livros” e leia dois ou três capítulos aleatórios. Talvez você goste.

Eu já tinha falado um pouco sobre o Derik aqui: http://vinicius.hax.tec.br/2021/02/derik-sivers-e-a-sincronicidade/

O Herói e o Fora da Lei – Margaret Mark e Carol S. Pearson

Após ver um vídeo que falava brevemente sobre alguns arquétipos junguianos que podem ser usados para a produção de histórias fiquei instigado pelo tema e fui procurar um pouco mais sobre o assunto e acabei topando com um vídeo que analisava esses arquétipos sob um ponto de vista de marketing. O vídeo (abaixo) indicava como referência o livro “O herói e o fora da lei”. Achei o assunto ainda mais interessante e fui atrás do livro. Gostei bastante da leitura mas realmente é um livro que não é para todo mundo. É essencialmente um livro de marketing (inclusive marketing pessoal).

Recomendo assistir alguns dos vídeos da playlist abaixo para entender melhor do que o livro trata caso o parágrafo anterior tenha soado interessante.


Pai & Executivo – Tom Hirschfeld e Julie Hirschfeld

Um amigo ia doar alguns livros e acabei aceitando a doação e esse foi um dos livros que veio no “lote”. Esse também foi outro que me pegou pelo título pois afinal eu sou pai e embora não seja um executivo tenho interesse nos temas que podem ser encontrados embaixo do título de executivo.

O autor defende e dá vários exemplos onde as habilidades de pai podem ser usados na vida de executivo e vice-versa. Embora não seja muito científico (e o autor principal é bem honesto em dizer que o livro é escrito baseado na experiência dele e na da esposa que é psicóloga) parece fazer sentido.

Aqui, tal qual o livro do Leonard, não senti como se estivesse lendo nada muito inovadora mas diferente do supracitado senti que foi importante ler e refletir sobre os temas apresentados. Também não é um livro para todo mundo mas achei muito válido pelo tema interessante e que merecia um pouco mais de atenção dado à sua importância.

O Incrível Steve Ditko – Roberto Guedes

Escrevi uma resenha mais detalhada para o livro aqui no blog mas resumidamente me decepcionei um pouco. Achei que o livro não tinha tanta informação quando eu esperava e tem alguns elementos de “encheção de linguiça”. Só recomendo para quem for muito fã do Homem-Aranha.

História do Mundo para Quem Tem Pressa – Emma Marriot

O título (e o subtítulo “Mais de 5000 anos de história resumidos em 200 páginas”) já resumem qual é a proposta do livro. E vou te dizer que dada a dificuldade da missão até que o livro cumpre o que se propõe. Claro que tudo é resumido mas isso era de se esperar. Ainda assim dá pra ter uma boa visão geral da história da humanidade.

Eu sempre me sentia um pouco culpado não saber muito da história da Europa depois da revolução francesa. Em minha defesa, não sei porque mas quase todos meus professores de história geral chegavam até revolução francesa e depois, quando muito falavam sobre a segunda guerra. Não sei se era porque a turma só conseguia andar até ali no conteúdo. Mas, um pouco em função disso, sempre achei que a história da Europa, principalmente pós revolução francesa, era muito confusa e fiquei um pouco aliviado em ler nesse livro que é porque é realmente confuso. São inúmeras guerras e disputas territoriais.

Alias, depois de ler esse livro, acho que se me pedissem pra resumir a história da humanidade em uma palavra eu diria: “violência”, pois é guerra que não acaba mais em todos os continentes possíveis. Felizmente vivemos em tempos mais pacíficos.

Um fato me chamou atenção ao ler o livro é que dizia que a Etiópia só foi abolir a escravidão em 1942, portanto muito depois do Brasil. Então essa história, muito comum no twitter, que o “Brasil foi o último país a abolir a escravidão” é falsa, se considerarmos o mundo todo.

Abrindo uma pequena tangente (e aproveitando pra conferir a informação do livro): Depois do Brasil “Seguiu a Tunísia (1890). Gâmbia (1894), Madagáscar (1897), China (1906), Serra Leoa (1928), Nigéria (1936), Etiópia (1942). Finalmente na Alemanha Nazi (1945), Marrocos (1956), Arábia Saudita (1962) e finalmente Mauritânia (1981).”

Fonte: https://www.infoescola.com/historia/cronologia-da-abolicao-da-escravidao-no-mundo/

Claro que 1888 é demais pra algo que não deveria ter acontecido mas convenhamos que o Brasil já tem muitos problemas pra carregar essa chaga desnecessariamente.

Sobre o livro, eu recomendo. Principalmente se você estiver com pressa.

Por último reproduzo trecho do meu texto sobre leituras que eu terminei em outubro:

Civilização – Niall Ferguson

Livro muito interessante (que merece uma resenha mais detalhada inclusive). Nele o autor se propõe a explicar quais foram os elementos que diferenciaram a civilização ocidental das demais civilização humanas. Só por curiosidade os elementos citados são: a competição, a ciência, o direito de propriedade, a medicina, o consumo e a ética do trabalho. Assim que possível escreverei essa resenha com mais detalhes.

As Seis Lições – Ludwig Von Mises

Livro com transcrições de palestras do Mises que foram proferidas na Argentina. O livro é bem curtinho, cada lição é uma palestra. Acho que pode ser interessante pra introduzir temas de economia. […]”

Sigo devendo um texto sobre Civilização (é que eu quero reler alguns trechos antes de escrever a respeito). Mas é um ótimo livro que eu recomendo à quem achou o parágrafo acima interessante.

As Seis Lições também é interessante mas é um livro bem básico. Então dependendo das suas leituras anteriores pode não valer tanto a pena. Mas achei um bom livro introdutório ao tema.

[Resenha de livro] O Incrível Steve Ditko

A edição conta com uma bela arte de capa

“O Incrível Steve Ditko” é um livro escrito por Roberto Guedes e lançado em 2019. Eu li o livro ano passado e infelizmente me decepcionei um pouco. Mas vamos com calma. Sobre o que se trata o livro?

O livro é uma biografia do desenhista Steve Ditko. Embora não tão famoso o autor é co-criador de ninguém mais, ninguém menos do que o Homem-Aranha. O autor era o desenhista do personagem nos primeiros (e insuperáveis?) primeiros números do personagem. Inclusive, devido ao “método Marvel”, o Aranha tem um certo caráter autobiográfico, o que só deixa o personagem mais interessante.

Mas o que era o “método Marvel”? Bom, resumidamente o Stan Lee passava os argumentos (resumos do que deveria acontecer nas histórias) para os desenhistas que praticamente faziam a história e retornavam as páginas desenhadas para o Stan Lee que preenchia os diálogos. Por isso o papel do Stan Lee na criação dessas histórias na Marvel é bem controverso. E o livro aborda um pouco isso.

Bom, esse é um dos problemas do livro. As pessoas que compram esse livro possivelmente sabem quem é Steve Ditko (que na mídia geral não recebe os merecidos créditos: a morte dele, curiosamente ocorrida no mesmo ano da morte do Stan Lee, passou em branco na mídia não especializada) e portanto já estão carecas de saber sobre o método Marvel. Mesmo assim lá vai o autor explicar o método Marvel. Então acho que em alguns pontos ocorre uma fuga do tópico por parte do autor.

Para quem não sabe, Steve Ditko era um recluso. Embora vivesse em Nova York ele morava sozinho e não deixou filhos. Para se ter noção demorou alguns dias até que as pessoas percebessem que ele morreu e não existem fotos recentes do desenhista na Internet. Até mesmo em função disso eu comprei o livro querendo saber mais detalhes sobre vida e o que pensava o autor. Entretanto o livro acrescenta mas não esclarece pontos importantes para os fãs de quadrinhos:

Por que Steve Ditko se tornou recluso? Afinal, qual a participação de Jack Kirby na criação do Homem-Aranha? – Diz a lenda que o Kirby fez um esboço da aparência do personagem mas que acabou não sendo aproveitado. Mas foi isso mesmo?

E mais importante, qual foi o motivo da briga entre Stan Lee e Steve Ditko? Quando houve a briga as histórias do Aranha estavam vendendo tal qual água. Por que interromper a parceria? Embora o livro apresente várias possibilidades – sendo a mais provável, para mim, a falta de reconhecimento no sucesso do Homem-Aranha – mas não elucida a questão. Talvez porque a questão realmente seja insolúvel já que os principais envolvidos morreram.

Também achei que o livro poderia ter sido melhor editado na questão das imagens. Por ser um livro que fala de quadrinhos obviamente que as imagens do mesmo são muito importantes. Entretanto muitas cenas citadas não são reproduzidas e/ou são reproduzidas páginas adiante – distantes do texto que as citou. Enquanto isso algumas imagens de menor importância são reproduzidas no livro, às vezes sem maiores explicações.

Por exemplo ao mencionar o “The Fly”, um personagem que teria inspirado o Homem-Aranha é reproduzida uma página dupla desses personagem desenhada por Jack Kirby (precisava dessa imagem, ainda mais uma página dupla?)

Mais tarde é usada a capa e mais três páginas de Amazing Spider-Man #33 “Se Esse For o Meu Destino”. Tá certo que a história é uma das melhores do Homem-Aranha, mas 4 páginas (contando com a capa)? Sem nem entrar no ponto que essa história quase com certeza já foi lida, e é bem conhecida, pelo público-alvo desse livro.

Infelizmente fiquei com a impressão que as imagens às vezes são usadas como uma forma de “preencher o livro”. Não contei mas acredito que somente metade do livro é composta por texto. Achei pouco.

Então aparentemente Roberto Guedes fez o que pode, mas para mim a tentativa ficou um pouco abaixo das expectativas. Embora talvez minha crítica tenha soado excessivamente negativa o livro trás sim informações que eu não sabia sobre o autor e principalmente agrega praticamente tudo que existe sobre ele em um único lugar. O que para consulta é uma mão na roda.

Além disso preciso dizer que o texto de Roberto Guedes é muito leve, de maneira que a leitura flui muito bem. Acho que eu li o livro em dois ou três dias.

O livro parece ter sido feito, por encomenda, para pegar o embalo de outro livro do autor que trata do (também desenhista) Jack Kirby. Infelizmente não pude ler este livro anterior mas já ouvi falar bem do mesmo. Suspeito que Steve Ditko era tão recluso que não existe material o suficiente, principalmente em fontes secundárias, para uma biografia parruda do mesmo. Talvez daqui há alguns anos mais conteúdo apareça.

Recomendo o livro somente para aqueles que são muito fãs do Homem-Aranha e querem saber um pouco mais sobre a (principal?) mente por trás dos ótimos primeiros números do personagem. Ou então se achar em uma promoção já que o preço (R$60,00 no momento de escrita deste texto) parece um pouquinho salgado considerando o conteúdo e acabamento do livro.

Se você tiver interesse mas não quiser gastar existe o documentário feito pela BBC “In search of Steve Ditko” (2007) que é possível encontrar (sem legendas – pelo que eu procurei) no YouTube:

Pequeno spoiler do documentário: Eles (o apresentador do documentário em conjunto com Neil Gaiman) até encontraram pessoalmente com Steve Ditko mas o desenhista não aceitou ser filmado ou dar alguma declaração (se não me falha a memória – faz um tempinho que assisti).

Para finalizar, como diria o Tio Ben: “Com Grandes Expectativas Vem Grandes Responsabilidades”.

Leituras de outubro/21

Breves resenhas:

Civilização – Niall Ferguson

Livro muito interessante (que merece uma resenha mais detalhada inclusive). Nele o autor se propõe a explicar quais foram os elementos que diferenciaram a civilização ocidental das demais civilização humanas. Só por curiosidade os elementos citados são: a competição, a ciência, o direito de propriedade, a medicina, o consumo e a ética do trabalho. Assim que possível escreverei essa resenha com mais detalhes.

As Seis Lições – Ludwig Von Mises

Livro com transcrições de palestras do Mises que foram proferidas na Argentina. O livro é bem curtinho, cada lição é uma palestra. Acho que pode ser interessante pra introduzir temas de economia. Fora a frase “Idéias e somente idéias podem iluminar a escuridão.” (que é uma baita frase embora não sei se eu concordo totalmente com ela) me chamou atenção o trecho abaixo falando de Van Gogh.

Acho que esse exemplo resume bem a ideia de que em um sistema socialista com planejamento central a maioria das pessoas seria alocadas em tarefas na qual não ia gostar de desempenhar. Obviamente que a quantidade de defensores desse sistema só se explica pelo fato de que os defensores possivelmente se imaginam que nesse sistema elas seriam pessoas muito importantes e influentes e não uma pequena peça no sistema.

X-men #1 de Jonathan Hickman

Finalmente parei pra ler o X-men de Hickman e putzgrila, que leitura incrível. Tinha lido muitas resenhas positivas e mesmo assim a expectativa foi atendida. Super-heróis e ficção científica, duas coisas que eu adoro. Não vou demorar pra ler o #2.

Demolidor – Amor em vão

Que capa incrível meus amigos. David Mazzucchelli está voando baixo nessa arte da capa e na edição em geral. Embora as histórias tenham roteiros bem competentes, especialmente do Denny Oneil, o destaque da edição realmente fica pela arte do Mazzucchelli que desenha a maioria das edições.

Lanterna Verde – Procurado

Geoff Johns escreve de forma bem competente o Lanterna Verde em um arco que serve pra esquentar as coisas pra Guerra dos Lanternas Amarelos. Conta também com uma arte bem legal de Ivan Reis e Daniel Acuña.

Tropa dos Lanternas Verdes: O Lado Negro do Verde

Histórias divertidas da Tropa dos Lanternas Verdes. Gostei especialmente do primeiro arco, que dá nome a edição, “O Lado Negro do Verde”, que mostra uma divisão “black ops” da Tropa dos Lanternas.

Superman – A morte do Superman

Sempre tive curiosidade pra ler esse arco e putzgrila, às vezes é melhor ficar só na curiosidade mesmo. Até tem umas cenas boas de ação mas a história tem um fiapo de roteiro. Um super-vilão novo aparece do nada, massacra a Liga da Justiça e morre (ao mesmo tempo mata o Super-homem). Puro suco dos anos 90 nos quadrinhos. Pra completar ainda peguei uma edição que teve algum problema de impressão que fez as cores ficarem invertidas em uma história no meio da edição. Como eu tinha deixado fechada na estante por um bom tempo fiquei encabulado de trocar na Amazon (depois entendi o porquê do baita desconto no preço). Então o Super-homem virou um tipo de Super Brasileiro, com cores verdes e amarelas.

Authority #3 (esqueci de botar na foto)

Authority é sempre divertido mas essa edição não tem Warren Ellis nos roteiros e Bryan Hitch nos desenhos então a queda de qualidade é perceptível 🙁

Uma resenha do livro Duna

Capa da edição da Aleph

Um planeta desértico com dois astros no horizonte. Uma ordem místico-religiosa que busca influenciar o destino do universo e cujos membros podem influenciar mentes fracas com palavras. Animais exóticos. Um imperador. Uma profecia. Parece familiar?

Aposto que você pensou nisso aqui

Possivelmente você pensou em Star Wars (ou Guerra nas Estrelas para quem eh das antigas).

Mas eu estou falando do livro Duna, escrito por Frank Herbert e lançado em 1965, portanto quase 10 anos antes de Star Wars (de 77). Embora a influência seja inegável, vamos à Duna.

A história se passa em um futuro no qual a humanidade se espalhou pela galáxia e passou a viver em diversos planetas. Nesse universo existe um produto muito especial que só existe em um planeta da galáxia, o planeta Arrakis, que também é conhecido como Duna. É dito que esse produto, chamado simplesmente de “a especiaria”, além de ter um sabor excelente é utilizado para as viagens espaciais. Portanto sem especiaria, sem viagens pelo espaço. Dessa forma, obviamente, Arrakis adquire uma importância geopolítica muito grande no universo de Duna. Porém apesar de ser muito importante Duna é um planeta inclemente: como seu nome já sinaliza o planeta é essencialmente um deserto gigante com baixíssima umidade no ar.

Essa característica de Duna faz com que o povo nativo do planeta, chamado de Fremens, desenvolvam uma cultura fortemente baseada na preservação e na importância da água. Por exemplo, entre esse povo, a moeda mais importante não é nenhum tipo de metal mas sim água. Outro aspecto que chama atenção em Duna são os gigantescos vermes de areia que andam abaixo da areia, ao menos na maior parte do tempo. Os vermes são muito sensíveis a barulhos e vibrações e atacam assim que detectam alguma possível presa. Sim, a idéia aqui é bastante semelhante ao clássico filme oitentista “O ataque dos vermes malditos”, mais um filme que com certeza bebeu da fonte de Duna.

Tipo isso mas com menos Bacon … Kevin Bacon

Um aspecto que me surpreendeu no livro foi que no universo de Duna computadores e máquinas afins estão banidos. Conta-se por alto que, milênios antes da história do livro em si, as máquinas se rebelaram e houve uma grande guerra entre máquinas e humanos e os humanos venceram mas concluíram que o risco de utilizar computadores é grande demais. Para resolver o problema da ausência de computadores existem os Mentats, que são seres humanos treinados desde a infância para usarem a lógica e fazerem cálculos complexos. Então acaba sendo um universo diferente do SciFi mais tradicional. Aqui temos alta tecnologia e até voo espacial mas não temos computadores ou robôs.

Nesse universo a humanidade se organizou em um intrincado sistema de feudos onde todos tem seus poderes limitados pelos demais. Existe a figura de um imperador que, embora temido e respeitado, não pode fazer tudo que quer sob o risco de causar uma revolta nas demais casas. Mas, nas sombras, os membros das casas e o imperador estão sempre buscando ampliar seu espaço de poder.

Mas isso tudo é o background de um universo rico criado por Frank Herbert. A história em si começa quando, buscando colocar um desafeto seu em uma situação desfavorável, o imperador nomeia o duque Leto da casa Atreides como responsável pelo planeta Arrakis. No universo de Duna isso implica que Leto e sua família precisam morar em Duna. E aí que a história começa.

Embora o livro também acompanhe o ponto de vista de outros personagens o protagonista é o filho do duque Leto, Paul Atreides. É pelos olhos de Paul que vamos conhecendo Duna e esse recurso é bem utilizado fazendo com que, as perguntas de Paul sejam as mesmas que o leitor provavelmente está se fazendo a respeito de Duna.

A mãe de Paul, Lady Jessica, participa de uma ordem mística religiosa composta exclusivamente por mulheres que tem representantes em diversos mundos do universo de Duna, conhecidas como Bené Gesserit. Como filho de Jéssica a mãe lhe treina em muito das práticas das Bené Gesserit, inclusive a de influenciar mentes fracas usando palavras (soa familiar?) e o duque e seu grupo também treina o seu sucessor em diversas artes de combate, militares e de corpo a corpo.

Em determinado momento do livro se desenrola uma conspiração para assassinar o duque e a mesma atinge seus objetivos. Entretanto seu filho Paul, ainda um adolescente, foge para o deserto junto com a mãe e ambos são dados como mortos. Ambos acabam se envolvendo com os Fremens e o objetivo de Paul passa a ser retomar o lugar de seu pai, e talvez ir até um pouco além. Existe uma profecia Fremen sobre um profeta e em vários momentos detalhes da profecia batem com feitos e fatos da vida de Paul. Essa profecia ocupa um lugar bastante importante durante o livro com isso mas múltiplas interpretações são possíveis.

Bom, o que eu achei do livro?

É complicado. Duna não é uma leitura leve. O livro tem seiscentas páginas e levei praticamente um ano lendo-o. A primeira parte não é tão empolgante. A conspiração contra o Duque ocorre aproximadamente na metade do livro e a partir daí o livro se torna bem interessante pois ficamos sabendo mais sobre a cultura Fremen e sobre os vermes de areia. Então a segunda metade do livro flui bem melhor. Entretanto o final eu considerei um pouco apressado. Explico. Durante todo o livro quase todos os personagens são retratados como muito inteligentes. Existem sempre “planos dentro de planos”. A quer matar B, mas ele sabe que B sabe disso então tem que agir já pensando em como fazer para lidar com a reação de B e assim por diante. Apesar disso, no final um dos principais personagens morre de uma maneira muito boba e a grande batalha para retomar Arrakis acontece em poucas páginas. Não posso deixar de ficar com a impressão que Frank Herbert já estava em 600 páginas e pensou “putzgrila, tá ficando muito longo, tenho que terminar isso aqui e rápido!”.

600 páginas?!?! Nem eu aguento mais escrever isso!

Ler esse último parágrafo pode dar a impressão que Duna é um livro ruim ou que eu não gostei e esse não seria um bom resumo. Duna trabalha de maneira muito legal aspectos como política (como ela é), guerra, religião, fé e ecologia. Sim, ecologia, no livro Arrakis é tão importante que é praticamente um personagem do livro e o autor fez o dever de casa da biologia e imaginou todo um ciclo da vida para Arrakis que soa muito consistente. Além disso, os Fremens tem também como forte influência em sua cultura a religião muçulmana. E isso tudo faz de Duna um livro que soa muito atual no nosso planeta que sofre de grandes problemas ambientais e geopolíticos, muitos deles ligados ao oriente médio.

Duna vai te fazer pensar no meio ambiente muito mais do que certas adolescentes por aí …

Tudo isso faz de Duna uma obra recomendável a todo fã de ficção científica e faz o sucesso de crítica e de público do livro ser totalmente justificável (segundo a wikipédia é o livro de ficção científica mais vendido de todos os tempos). O final do livro deixa alguns pontos em aberto e pretendo voltar algum dia ao universo de Duna nas suas continuações, começando com “Messias de Duna”, livro de 1969. Mas acredito que, assim como a especiaria, Duna é feito para ser consumido aos poucos. Até mesmo para não causar dependência.

PS: A edição da Aleph tá muito caprichada. A capa é muito bonita (foto lá de cima) e tem uma textura que torna o livro macio e agradável ao toque (por mais estranho que soe :P). A edição também trás um glossário (não sei se consta na edição original) com termos e palavras usados ao longo do livro que ajudam bastante.

Fontes das imagens:

[Resenha] O caminho da servidão

Capa do livro - O caminho da servidão
Capa do livro – O caminho da servidão

Antes de falar especificamente do livro, é preciso uma breve recapitulação sobre o contexto em que o mesmo está inserido. Hayek foi um economista ligado à escola Austríaca sendo aluno de Mises (que é um nome que ultimamente tem sido mais divulgado).

Para quem é, como eu, estudante originario das ciências exatas, o conceito de “escola de pensamento” não é tão claro, por isso sugiro que assistam o vídeo abaixo onde Hélio Beltrão, do Instituto Mises Brasil explica melhor esse conceito e faz uma introdução à escola austríaca.

Hayek ganhou o prêmio Nobel de economia em 1974 por “por seu trabalho pioneiro na teoria da moeda e flutuações econômicas e pela análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais”¹. Entretanto, sua obra mais famosa (“O Caminho”) não tem relação direta com o prêmio. “O Caminho da Servidão” é um tratado que também abrange filosofia e política.

Publicado em 1944, a obra surgiu pela preocupação de Hayek com o caminho que a Inglaterra estava tomando no pós-guerra. Segundo ele, algumas medidas em prol da centralização econômica haviam sido tomadas, inclusive em função da própria guerra, e estavam levando o país para caminhos que o aproximavam dos governos socialistas e principalmente fascistas. A obra teria surgido portanto para tentar evitar que a Inglaterra trilhasse “O Caminho da Servidão”.

Eu cheguei no livro pois estava interessado em começar a estudar mais sobre a Escola Austríaca. Dentre os vários livros que o Instituto Mises disponibiliza gratuitamente no seu site fiquei um pouco em dúvida por qual começar porém resolvi ler “O Caminho” depois que dois amigos comentaram comigo que estavam lendo o livro também. O mais interessante é que nós três não planejamos isso e chegamos à Hayek de maneira espontânea.

Sobre o livro em si. Admito que no começo achei a leitura um pouco chata, mas depois que me acostumei com o estilo de escrita de Hayek comecei a aproveitar melhor a leitura.

A idéia central do livro é que a determinação de controlar certos aspectos do livre mercado acaba gerando uma espécie de ciclo vicioso na qual as liberdades individuais acabam se perdendo gerando um sistema totalitário. O livro então é um tratado que explica o porquê e como isso acontece.

Em um certo momento do livro decidi fazer um fichamento capítulo à capítulo caso desejasse consultar a obra posteriormente, por isso seguem alguns comentários específicos sobre os capítulos e que começam no 7. Quem sabe no futuro eu atualizo a resenha com comentários sobre os demais capítulos. Notem que eu recomendo a leitura da obra como um todo e nesse aspecto os primeiros capítulos são a base para os demais.

Capítulo 7 – Aqui Hayek fala sobre a relação entre a liberdade econômica e as liberdades individuais e a importância da primeira. Fala que a perca da liberdade econômica implicará em um sistema totalitário.

Capítulo 8 – Fala sobre a justiça em um sistema capitalista e um sistema socialista. Qual seria mais justo? Como dividir as coisas? No final do capítulo fala sobre como o fascismo emergiu a partir do socialismo, ou melhor das classes que não se viram representadas pelos trabalhadores e queriam uma divisão diferente da sociedade. Também falha que se removermos os incentivos econômicos, restará o incentivo da violência e nesse caso se a falha de um indivíduo não o leva a falência o fará andar próximo da morte em todos os momentos.

Capítulo 10 – O nome desse capítulo é ótimo: “Por que os piores chegam ao poder” – Explica porque em um sistema com planejamento central as pessoas que irão prosperar na hierarquia de poder provavelmente são as que menos possuem escrúpulos.

Capítulo 11 – Essa capítulo fala sobre como os regimes totalitários precisam eliminar críticas a fim de não perderem força. Mais um incentivo à violência.

Capítulo 12 – Esse capítulo fala sobre de onde vem as ideias do Nacional Socialismo. Inclusive sobre isso vale o comentário de que Hayek explica que o livro se aplica e muito bem para o que aconteceu na URSS. Porém Hayek decidiu dar uma ênfase maior na experiência nazista pois ela era mais próxima na época da realidade do povo inglês (para quem o livro se destinava).

O capítulo 13 fala sobre intelectuais ingleses que defendem idéias estatizantes e o quanto essas idéias se assemelham às idéias socialistas e nazistas

Capítulo 14 – Aborda como a Inglaterra tem se afastado dos seus valores liberais característicos e como esses valores deveriam ser defendidos de peito aberto ao confrontados com ideologias totalitárias. Também fala sobre como um estado agigantado diminui a solidariedade de um povo.

Por fim o capítulo 15 fala sobre algumas limitações de organizações supranacionais e como se deve tomar cuidado para que essas organizações não se tornem também tirânicas para com seus países membro. Bem interessante de se analisar sob a luz do que se tornou a União Europeia nos dias de hoje.

Para concluir posso dizer que é uma obra muito vigorosa e que atinge o que se propõe, que é alertar sobre os perigos de uma sociedade com planejamento central. Não é o meu caso, mas acredito que a leitura atenta desse livro pode acabar com as crenças de muitas pessoas de que “o Estado deveria resolver” inúmeras situações. É preciso esclarecer entretanto que Hayek não propõe o fim do estado e segundo o autor existiriam funções que o mesmo precisa desempenhar. Não ficou muito claro a partir da obra qual seriam todas as atribuições do estado na visão de Hayek porém ele menciona segurança e justiça como sendo atribuições do estado.

Recomendo a leitura desse livro e pessoalmente recomendo que persistam. No começo a leitura talvez vá parecer um pouco árida porém a medida que se evolui no livro as coisas começam a fazer mais sentido e a leitura se torna agradável. Não é a toa que “O Caminho da Servidão” acabou se tornando uma obra muito popular.

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¹ https://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Hayek

[Resenha] Trabalhe 4 horas por semana

Capa do livro "Trabalhe 4 horas por semana"
Capa do livro “Trabalhe 4 horas por semana”

Tem um livro que é bastante famoso mas que pelo título eu tinha misto de curiosidade e receio que é o “The 4 hour workweek”, traduzido no Brasil como “Trabalhe 4 horas por semana” do autor Tim Ferris.

Eis que me apareceu uma promoção da Amazon e resolvi comprar o livro. Quer saber o que eu achei? Continue lendo ….

O livro descreve um método que Tim sugere para que você possa trabalhar 4 horas por semana. Como isso é possível? Bom, ele começa apresentando um acrônimo onde cada letra representa um passo rumo ao objetivo: DEAL. Onde:

D – Definição
E – Eliminação
A – Automação
L – Liberação

E basicamente o livro é estruturado em 4 partes (mais um fechamento) onde cada parte Tim explica uma das letras do DEAL. Bom, e aí que a minha resenha se complica pois eu tive uma impressão diferente de cada um desses capítulos. Vamos à eles então:

D de Definição

Nesse capítulo basicamente Tim trabalha o fator psicológico do leitor, tentando mostrar que é possível, e sobretudo desejável ter uma vida de 4 horas de trabalho. Esse capítulo tem um tom meio de autoajuda e ao mesmo tempo ele fica toda hora tentando te “vender a ideia” do livro, mas achei meio chato isso afinal pra que vender o livro pra quem já está até lendo o livro? Nesse ponto eu estava achando uma leitura meio “falcatrua”.

E de Eliminação

Nesse ponto o livro melhora bastante pois se trata de algo mais prático. A ideia do capítulo é eliminar todas as coisas que significam desperdício de tempo. Desde aquelas que todos nós sabemos (mas é difícil de fazer) como parar de usar as redes sociais, especialmente no horário de trabalho. Por exemplo ele também sugere uma “dieta pobre em informação”, ou seja, nada de TV, jornais, revistas, etc. A ideia parece meio insana em um primeiro momento mas tem seu mérito. Segundo ele se algo for realmente importante você vai ficar sabendo.
Esse capítulo também fala um pouco sobre o princípio de Pareto ou regra 80/20 (que basicamente diz que 20% dos esforços trazem 80% dos resultados). Como o objetivo aqui é ter mais tempo, ele sugere que os empreendedores fiquem somente com 20% dos clientes que dão menos “trabalho” e diz que focar em manter e conseguir clientes menos trabalhosos, ao longo de um tempo pode trazer os 80% dos resultados.
Achei interessante esse capítulo pois ele também trás dicas bastante práticas de lidar com interrupções no trabalho, especialmente as típicas reuniões improdutivas. E aqui o livro mostra o seu valor indo nos detalhes realmente, apresentando possíveis argumentos e respostas a contra-argumentos que você pode usar com seu chefe para fugir de reuniões. Esse capítulo é particularmente interessante pois serve até mesmo se você apenas quer ser mais produtivo.

A de Automação

O passo seguinte é automatizar as tarefas que você não conseguiu eliminar. Essa automatização também se baseia na regra 80/20. Ou seja, segundo ele 20% das tarefas tendem a ocupar 80% do tempo e são essas que ele irá abordar nesse capítulo. A proposta aqui é usar o máximo de software possível (filtros de e-mail por exemplo) e outros para realizar tarefas repetitivas.

Quando não for possível automatizar via software o livro sugere fazer o mesmo via contratação de assistentes virtuais remotos. Para quem não conhece existem empresas no mundo que prestam esse serviço. Esse tipo de serviço pode incluir desde ler e responder e-mails por você, até fazer buscar na Internet, preparar relatórios e apresentações, etc. Ou seja, é terceirizar as suas atividades da semana. Obviamente isso só vai dar certo se você receber um valor para trabalhar e pagar uma parcela desse valor para o seu assistente virtual.

Tim não dá muita ênfase nos aspectos éticos de fazer isso. Ele sugere isso e menciona apenas atenção à acordos de confidencialidade que o seu contratante pode ter. Aqui fica nesse ponto fica escancarado que a “A semana de 4 horas” não é para todos, afinal se você vai contratar assistente, está implícito que os seus assistentes vão precisar trabalhar bastante. Além disso o autor usa as diferenças cambiais a seu favor. Se ele recebe em dólar, que é uma moeda valorizada, pode utilizar uma parte para si e outra para o assistente e provavelmente o mesmo vai ficar muito feliz com o dinheiro que está recebendo. Não que isso seja um problema necessariamente. Uma maneira de ver a questão é que você está gerando (pelo menos) um emprego em um país mais pobre.

E nesse capítulo Tim aborda um assunto que eu achei particularmente interessante. Afinal talvez você esteja pensando “mas a minha profissão requer a minha presença constante, para mim isso de terceirizar para um assistente virtual nunca iria funcionar”. Bom, aí ele sugere criar uma musa. O que seria uma musa? Uma musa seria um empreendimento projetado para requerer o mínimo possível de atenção sua. Um exemplo poderia ser um e-book ou um curso online, onde se você tiver um conteúdo demandado já existem plataformas que permitem que você receba uma renda recorrente daquele produto. Então Ferris sugere que você mude de carreira para (aos poucos) passar a viver somente com a receita da musa e quando conseguir isso aplicar o capítulo de automatizar.

Essa parte do livro ficou bem bacana pois o livro explica de forma bastante detalhada como você pode criar uma musa, incluindo uma grande quantidade de sites e serviços que poderiam te ajudar no processo. Infelizmente aí vemos a diferença entre tradução e localização. A versão traduzida aponta para serviços e sites dos EUA, sendo que muitas vezes o acesso aos mesmos seria dificultado por não estarmos lá. O melhor seria se na tradução fossem apontadas ferramentas acessíveis aos brasileiros. Ainda assim vale a leitura do capítulo pelas dicas para a criação de uma musa.

L de Liberação

Outro aspecto sugerido no método do livro é morar em algum país com custo de vida mais baixo. O autor inclusive menciona que morou alguns anos na Argentina. Recebendo em dólar e tendo despesas em outras moedas mais fracas a conta fecha mais facilmente.

E esse capítulo embora eu tenha achado um pouco distante da minha realidade particular eu achei interessante pois aqui também Tim parte para a prática e ensina como você pode convencer seu chefe à te deixar trabalhar de casa. Primeiro uma vez por semana, depois duas …. até que chegue na semana completa. Feito isso você pode trabalhar em qualquer lugar do mundo que tenha uma Internet razoável.

Tim argumenta que viver em outros países é muito mais barato do que se imagina, principalmente quando você fica tempo suficiente para poder alugar um imóvel e não depender de hotéis. Obviamente a semana de 4 horas exige uma vida mais simples, sem esbanjar dinheiro ou sair andando de Ferrari pelo mundo afora. O conteúdo do livro realmente faz jus ao nome e te entrega um método factível de viver uma vida com muito tempo livre e liberdade física, o que Ferris chama de “miniaposentadorias”.

Conclusão

Achei o livro bem legal. Como destaque positivo é que Tim Ferris realmente entra no detalhe e mostra maneiras de fazer a semana de 4 horas virar realidade. E mesmo que viver viajando por aí não seja o seu sonho o livro trás pequenas dicas de como podemos usar melhor o nosso tempo e até aumentar a nossa renda pessoal (através das musas) então todo mundo que ler vai se beneficiar com a leitura. Leiam e quando tiverem conseguido os benefícios decorrentes do livro volte aqui e uso o tempo livre para deixar um comentário 😉

[Resenha] Homem-aranha: De volta ao lar

Cartaz do filme Homem-aranha de volta ao lar
Cartaz do filme Homem-aranha de volta ao lar. Créditos da imagem: IMDB

Como primeiro texto desse projeto pensei em fazer o primeiro texto sobre o super-herói mais clássico de todos, o Super-homem, porém o coração falou mais alto e resolvi falar sobre o meu super-herói preferido (aproveitando também que ele teve um filme no cinema recentemenete). Então aqui vai minha opinião sobre “Homem-Aranha: De volta ao Lar”.

Primeiro vamos falar sobre os atores: Tom Holland está muito bem no papel de Homem-aranha. Consegue enganar bem como Peter Parker, um colegial que adquiriu poderes. A atriz Marisa Tomey, que interpreta a tia do Homem-Aranha me incomodou um pouco. Não entendi a escolha de uma atriz tão jovem para o papel. Claro que é condizente com a idade do personagem de Holland mas ainda assim não me convenceu, ficou pra mim no um Q de descrença. O elenco de apoio da escola está OK. Destaque para o amigo Ned de Peter, que não existia nos quadrinhos mas que serviu como um bom alívio cômico no filme. Fica óbvio e até aceitável que tenha havido uma transformação para tornar os coadjuvantes mais diversos do que no original. Particularmente me incomodaram o Flash Tompson, que de bully de Parker passou a ser só um cara chato, e a M.J. que eu acho que foi colocada ali só pros velhacos, tipo eu, cutucarem a pessoa do lado e falarem “M.J. é o nome da mulher do Homem-aranha, quer dizer, isso antes do pacto, mas depois te explico”. Se houver continuação fico curioso com o destino da personagem já que ela não tem nada a ver com a M.J. dos quadrinhos.

Robert Downey Jr. tem bastante tempo de tela no filme. Tempo demais. O que me faz pensar na teoria que eu li por aí que a Marvel queria cansar o personagem para os expectadores a fim de que os mesmos aceitassem a sua morte em um futuro filme dos Vingadores. Considerando o salário alto do ator e que o herói, por usar uma armadura, poderia ser substituído por outro personagem (que continuaria a ser o Homem de ferro) não acho impossível.

Por último mas não menos importante tem a cereja do bolo Michael Keaton como o Abutre. E eu fiquei realmente feliz de como fizeram o uniforme do personagem, ja que o original é beeeem tosco. O ator está muito a vontade no personagem. E o público, sabendo que o ator já fez o Batman e o filme Birdman deixa suas cenas mais divertidas ainda. Além disso o vilão é mais crível que a média e embora não seja perfeito fica como um dos melhores vilões da Marvel até o momento.

O uniforme clássico (e meio tosco) do vilão Abutre
O uniforme clássico (e meio tosco) do vilão Abutre. Créditos da imagem: marvel.wikia.com.

A história em si é relativamente simples: depois da batalha de Nova York, ocorrida no primeiro filme dos Vingadores, ficou sucata de ET espalhada por toda a cidade. Inicialmente uma empresa, cujo dono é Adrian Toomes (o Abutre), é escolhida para limpar a sujeira. Depois os federais percebem que isso pode não ser uma boa ideia e do dia pra noite cassam o contrato de Toomes, deixando ele bolado. Em função disso, ao invés de procurar outro empreendimento como um bom cidadão, o Abutre (fazendo jus ao nome) decide pegar alguns espólios que estavam com ele, fazer um tipo de engenharia reversa na sucate e produzir armas a partir daqueles objetos que depois começam a ser vendidas para ladrões pela cidade. Após impedir um assalto a banco com uns criminosos usando essas armas o Homem-aranha passa a investigar o caso (embora o Homem de Ferro mande ele deixar o trabalho pra outros heróis mais experientes) e isso coloca o Aranha em rota de colisão com o abutre.

Uniforme do vilão Abutre no filme do Homem-aranha. Créditos da imagem: IMDB.

Um diferencial do filme, em relação aos anteriores, foi o uniforme do Homem-aranha. No filme o Homem de Ferro dá um uniforme bem tecnologico pro Homem-aranha (com direito até a assistente virtual) e isso gera algumas cenas bem engraçadas com o Homem-aranha se atrapalhando com as possibilidades do uniforme novo.

O filme é bonito, tem coadjuvantes bons, um vilão interessante …. então é um excelente filme do Homem-aranha? NÃO, porque me parece que faltou um pouco da carga dramática do Homem-aranha. Onde foi parar o Tio Ben e “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”? Analisando superficialmente o Homem-aranha é um herói engraçado e bem com a vida. Mas na origem e no cerne do personagem há pelo menos uma grande tragédia, a morte do seu tio (entre outras ao longo do tempo). Pra quem não se lembra, o Homem-aranha, logo após ganhar os poderes decide usá-los pra ganhar dinheiro (praticamente participando de um UFC da vida). E em um dessas noites, o local onde ele estava lutando é assaltado e ele fala (ou age como quem diz): “antes ele do que eu” e não faz nada pra parar o ladrão, que passa na frente dele. Pouco tempo depois esse mesmo ladrão mata um velhinho em um assalto e ficamos sabendo que esse velhinho era o tio do Homem-aranha (que é praticamente um pai dele já que Peter Parker é orfão). Peter então aprende que “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” e esse vira praticamente o lema do herói. Claro que isso já foi retratado nos outros filmes e não acho que precisava ser mostrado explicitamente no filme novo. O problema é que quase não há referência ao tio de Peter. E dado que o Homem-aranha é retradado como jovem no filme entende-se que isso ocorreu há pouco tempo. Mas isso não influencia de maneira nenhuma a história ou o personagem principal. Em momento algum é retratado Peter Parker com remorso pelo seu tio ou como se tivesse aprendido a grande lição “Com grandes poderes …”. Pelo contrário, Peter é bem irresponsável durante o filme todo e alguns atos do filme é que tentam servir como lição.

Pra mim um dos pontos chave do personagem é que não é fácil ser o Homem-aranha, mas de forma consciente o personagem decide ser o herói MESMO com as dificuldades e por isso mesmo ele é tão inspirador. No cânone do personagem ele salva os seus bullies (Flash Tompson, por exemplo, que foi bastante modificado), perde empregos e oportunidades profissionais e tem problemas diversos com as namoradas (pontualidade nos encontros nunca foi o ponto forte de Peter Parker). Esse Homem-aranha não tem esse peso. Pelo contrário, ele banca o Homem-aranha e tudo fica bem, ou até melhor, por causa disso. Por exemplo na competição de soletrar, Peter quase faz o time perder mas mesmo assim ninguém da equipe fica magoado com ele.

Por causa disso saí do filme com a sensação que vi um ótimo filme de um super-herói genérico. É de se imaginar se o diretor leu pelo menos a história de origem do personagem para descaracterizá-lo dessa maneira. O filme vale o ingresso mas se houvesse um pouco mais de culpa e referências ao tio Ben (e menos Tony Stark) pra mim seria bem melhor.

Bom, essa foi minha opinião sobre o filme, abaixo seguem alguns comentários soltos sobre algumas cenas mais específicas que podem estragar sua experiência se você ainda não viu o filme. Prossiga com cautela.

Spoilers zone

Uma das cenas mais engraçadas do filme pra mim foi aquela em que ele fica preso em um depósito e parece que se passaram horas, até que o Homem-aranha pergunta pra sua assistente quanto tempo passou e ela fala: “20 minutos”. Alias, o filme é bem engraçado. Outra cena bem legal foi aquela que ele fica preso sob escombros e que é referência a uma história clássica onde isso também ocorre. Gostei da referência ao vilão Escorpião (um dos sujeitos que quer comprar armas do Abutre). O Escorpião é um vilão clássico do Homem-aranha que tem um visual muito legal e sempre teve grandes lutas com o Aranha. Só não sei se ele seguraria sozinho um filme inteiro, pois ao menos nos quadrinhos o Escorpião não é nenhum gênio do crime.

Capa da revista do Homem-aranha com a história "Se esse é meu destino ..."
Capa animada da revista do Homem-aranha com a história “Se esse é meu destino …”.

O fato do vilão ser o pai da garota de quem o Peter gosta é um pouco forçada mas rende outra cena ótima que é a cena do carro onde o Abutre descobre que Peter é o Homem-aranha. Pra concluir tem uma coisa me deixou meio em dúvida: Tem uma cena em que o Abutre diz que se o Homem-aranha interferir ele vai ir atrás do Aranha e de toda a família dele e que ele é mau como o pica-pau. No entanto na luta final o Abutre tem pelo menos uma chance de acabar com o seu adversário e não o faz. Além disso, na cena pós-créditos ele não revela a identidade do Homem-aranha. Fiquei me perguntando: foi falha do roteiro/diretor em retratar o vilão ou foi proposital e eles queriam mostrar que no fundo o Abutre não é tãão mal assim?