Uma resenha do livro Duna

Capa da edição da Aleph

Um planeta desértico com dois astros no horizonte. Uma ordem místico-religiosa que busca influenciar o destino do universo e cujos membros podem influenciar mentes fracas com palavras. Animais exóticos. Um imperador. Uma profecia. Parece familiar?

Aposto que você pensou nisso aqui

Possivelmente você pensou em Star Wars (ou Guerra nas Estrelas para quem eh das antigas).

Mas eu estou falando do livro Duna, escrito por Frank Herbert e lançado em 1965, portanto quase 10 anos antes de Star Wars (de 77). Embora a influência seja inegável, vamos à Duna.

A história se passa em um futuro no qual a humanidade se espalhou pela galáxia e passou a viver em diversos planetas. Nesse universo existe um produto muito especial que só existe em um planeta da galáxia, o planeta Arrakis, que também é conhecido como Duna. É dito que esse produto, chamado simplesmente de “a especiaria”, além de ter um sabor excelente é utilizado para as viagens espaciais. Portanto sem especiaria, sem viagens pelo espaço. Dessa forma, obviamente, Arrakis adquire uma importância geopolítica muito grande no universo de Duna. Porém apesar de ser muito importante Duna é um planeta inclemente: como seu nome já sinaliza o planeta é essencialmente um deserto gigante com baixíssima umidade no ar.

Essa característica de Duna faz com que o povo nativo do planeta, chamado de Fremens, desenvolvam uma cultura fortemente baseada na preservação e na importância da água. Por exemplo, entre esse povo, a moeda mais importante não é nenhum tipo de metal mas sim água. Outro aspecto que chama atenção em Duna são os gigantescos vermes de areia que andam abaixo da areia, ao menos na maior parte do tempo. Os vermes são muito sensíveis a barulhos e vibrações e atacam assim que detectam alguma possível presa. Sim, a idéia aqui é bastante semelhante ao clássico filme oitentista “O ataque dos vermes malditos”, mais um filme que com certeza bebeu da fonte de Duna.

Tipo isso mas com menos Bacon … Kevin Bacon

Um aspecto que me surpreendeu no livro foi que no universo de Duna computadores e máquinas afins estão banidos. Conta-se por alto que, milênios antes da história do livro em si, as máquinas se rebelaram e houve uma grande guerra entre máquinas e humanos e os humanos venceram mas concluíram que o risco de utilizar computadores é grande demais. Para resolver o problema da ausência de computadores existem os Mentats, que são seres humanos treinados desde a infância para usarem a lógica e fazerem cálculos complexos. Então acaba sendo um universo diferente do SciFi mais tradicional. Aqui temos alta tecnologia e até voo espacial mas não temos computadores ou robôs.

Nesse universo a humanidade se organizou em um intrincado sistema de feudos onde todos tem seus poderes limitados pelos demais. Existe a figura de um imperador que, embora temido e respeitado, não pode fazer tudo que quer sob o risco de causar uma revolta nas demais casas. Mas, nas sombras, os membros das casas e o imperador estão sempre buscando ampliar seu espaço de poder.

Mas isso tudo é o background de um universo rico criado por Frank Herbert. A história em si começa quando, buscando colocar um desafeto seu em uma situação desfavorável, o imperador nomeia o duque Leto da casa Atreides como responsável pelo planeta Arrakis. No universo de Duna isso implica que Leto e sua família precisam morar em Duna. E aí que a história começa.

Embora o livro também acompanhe o ponto de vista de outros personagens o protagonista é o filho do duque Leto, Paul Atreides. É pelos olhos de Paul que vamos conhecendo Duna e esse recurso é bem utilizado fazendo com que, as perguntas de Paul sejam as mesmas que o leitor provavelmente está se fazendo a respeito de Duna.

A mãe de Paul, Lady Jessica, participa de uma ordem mística religiosa composta exclusivamente por mulheres que tem representantes em diversos mundos do universo de Duna, conhecidas como Bené Gesserit. Como filho de Jéssica a mãe lhe treina em muito das práticas das Bené Gesserit, inclusive a de influenciar mentes fracas usando palavras (soa familiar?) e o duque e seu grupo também treina o seu sucessor em diversas artes de combate, militares e de corpo a corpo.

Em determinado momento do livro se desenrola uma conspiração para assassinar o duque e a mesma atinge seus objetivos. Entretanto seu filho Paul, ainda um adolescente, foge para o deserto junto com a mãe e ambos são dados como mortos. Ambos acabam se envolvendo com os Fremens e o objetivo de Paul passa a ser retomar o lugar de seu pai, e talvez ir até um pouco além. Existe uma profecia Fremen sobre um profeta e em vários momentos detalhes da profecia batem com feitos e fatos da vida de Paul. Essa profecia ocupa um lugar bastante importante durante o livro com isso mas múltiplas interpretações são possíveis.

Bom, o que eu achei do livro?

É complicado. Duna não é uma leitura leve. O livro tem seiscentas páginas e levei praticamente um ano lendo-o. A primeira parte não é tão empolgante. A conspiração contra o Duque ocorre aproximadamente na metade do livro e a partir daí o livro se torna bem interessante pois ficamos sabendo mais sobre a cultura Fremen e sobre os vermes de areia. Então a segunda metade do livro flui bem melhor. Entretanto o final eu considerei um pouco apressado. Explico. Durante todo o livro quase todos os personagens são retratados como muito inteligentes. Existem sempre “planos dentro de planos”. A quer matar B, mas ele sabe que B sabe disso então tem que agir já pensando em como fazer para lidar com a reação de B e assim por diante. Apesar disso, no final um dos principais personagens morre de uma maneira muito boba e a grande batalha para retomar Arrakis acontece em poucas páginas. Não posso deixar de ficar com a impressão que Frank Herbert já estava em 600 páginas e pensou “putzgrila, tá ficando muito longo, tenho que terminar isso aqui e rápido!”.

600 páginas?!?! Nem eu aguento mais escrever isso!

Ler esse último parágrafo pode dar a impressão que Duna é um livro ruim ou que eu não gostei e esse não seria um bom resumo. Duna trabalha de maneira muito legal aspectos como política (como ela é), guerra, religião, fé e ecologia. Sim, ecologia, no livro Arrakis é tão importante que é praticamente um personagem do livro e o autor fez o dever de casa da biologia e imaginou todo um ciclo da vida para Arrakis que soa muito consistente. Além disso, os Fremens tem também como forte influência em sua cultura a religião muçulmana. E isso tudo faz de Duna um livro que soa muito atual no nosso planeta que sofre de grandes problemas ambientais e geopolíticos, muitos deles ligados ao oriente médio.

Duna vai te fazer pensar no meio ambiente muito mais do que certas adolescentes por aí …

Tudo isso faz de Duna uma obra recomendável a todo fã de ficção científica e faz o sucesso de crítica e de público do livro ser totalmente justificável (segundo a wikipédia é o livro de ficção científica mais vendido de todos os tempos). O final do livro deixa alguns pontos em aberto e pretendo voltar algum dia ao universo de Duna nas suas continuações, começando com “Messias de Duna”, livro de 1969. Mas acredito que, assim como a especiaria, Duna é feito para ser consumido aos poucos. Até mesmo para não causar dependência.

PS: A edição da Aleph tá muito caprichada. A capa é muito bonita (foto lá de cima) e tem uma textura que torna o livro macio e agradável ao toque (por mais estranho que soe :P). A edição também trás um glossário (não sei se consta na edição original) com termos e palavras usados ao longo do livro que ajudam bastante.

Fontes das imagens:

Vingadores Ultimato: considerações e hipóteses

Confesso que achei bem corajosa a atitude da Marvel Studios de terminador “Vingadores – Guerra Infinita” com Thanos conseguindo seus objetivos. Claro que pra acompanhou os bastidores da produção e leu as HQs nas quais a obra se baseia já era bastante provável que Thanos ia conseguir as 6 jóias do infinito. Já era veiculado há muito tempo que Guerra Infinita e Ultimato seriam uma história só dividida em dois filmes – apesar que uns meses antes da estréia de Guerra Infinita os diretores afirmarem que os dois filmes não seriam relacionados (possivelmente pra despistar as pessoas). Se Thanos não conseguisse as 6 jóias ele seria só mais uma ameaça em potencial: mais do mesmo ao final das contas. E a Marvel não passou anos falando nas jóias simplesmente para que o Thanos “morresse na praia”. Porém, eu particularmente achava que a última cena de Guerra Infinita seria Thanos conseguindo as jóias, estalando os dedos e … luzes se acendem. Continua no próximo filme. Todo mundo ia ficar se perguntando o que aconteceu e o final de Guerra Infinita não seria tão trágico. Mas não foi assim que aconteceu.

O estalar de dedos nos quadrinhos – Sem resistência

E agora? Bom, também para quem acompanha quadrinhos sabe que morrer e voltar a vida é apenas mais uma segunda-feira no mundo dos super-heróis. Praticamente todos os heróis já ‘morreram’ de formas e por tempos variados. Alguns por somente algumas páginas enquanto outros ficam nesse estágio por anos. Mas eles voltam. Então as perguntas são: quem vai voltar no final no ultimato¹ e como?

A partir daqui o texto tem algumas hipóteses (construídas a partir das declarações e trailers – não de vazamentos): prossiga por sua CONTA E RISCO.

Bom, já temos algumas pistas. O próximo filme do Homem-aranha já está até gravado e Dr. Estranho 2 está agendado, entre outros filmes. Porém, a Internet já tinha notado que entre os sobreviventes do “estalo” estavam os 6 Vingadores originais. Ontem vendo mais uma entrevista dos diretores eles reafirmaram esse ponto – dando a entender que é algo relevante pra trama.

Conforme explicitado pelo Jovem Nerd, a partir dos trailers, o filme parece se passar ao longo de alguns anos. É possível que a Capitã Marvel encontre os vingadores sobreviventes e juntos decidam procurar Thanos logo após o terceiro filme. Como Thanos fala no trailer 3: “Não conseguiram viver com o próprio fracasso. Aonde isso levou vocês? De volta pra mim.”

Então eles vão lá e: perdem novamente, sendo uma virada de roteiro interessante. Possivelmente mais algumas baixas (Capitã Marvel? Rocket?). Os sobreviventes voltam pra Terra. Aí aparece o Homem-formiga (como visto no final do trailer 1) e eles descobrem que podem voltar no tempo. Acontece algo no passado e os seis vingadores originais descobrem que precisam se sacrificam pra conseguirem as seis jóias e salvar os demais (talvez seja explicado que quem se sacrifica por uma jóia não pode voltar). Então voltaria tudo ao status quo, porém nem Gamora nem os seis vingadores originais voltariam à vida. Afinal diferentemente dos quadrinhos atores envelhecem (e começam a cobrar mais caro pelos seus caches). Algo que reforça essa hipótese é que nenhum dos seis vingadores originais tem filmes agendados para os próximos anos. Seria uma forma da Marvel economizar um pouco de dinheiro com os atores e valorizar outras propriedades intelectuais.

PS: Não deve acontecer mais eu ia achar muito legal que o final do filme mostrasse um monstro saindo do chão em Nova York e (como os vingadores restantes ainda não se reagruparam) fica aquele suspense de “Quem poderá nos ajudar?” e nisso aparece um quatro de fogo no céu (referência ao quarteto fantástico que voltou pra Disney nos cinemas e agora pode aparecer nos filmes).

¹ Que péssima escolha de nome. Do dicionário: Ultimato. Substantivo masculino:
1. num processo de negociação diplomática, exigência, pedido ou proposta final cuja rejeição acarretará o fim das conversações e o uso de uma ação direta.
2. na guerra, comunicado enviado por um chefe militar ao inimigo exigindo rendição imediata, sob ameaça de obtê-la por meios mais violentos.

Além de ultimato não ser uma tradução para “Endgame”, não faz sentido, pelo que vimos nos trailers. Alguém vai dar um Ultimato no Thanos? Aparentemente não.
O problema do nome se agrava pois existe nos quadrinhos um arco de histórias com esse nome, que envolve o Magneto e portanto não tem absolutamente nenhuma relação com o filme. Se quiserem um dia adaptar esse arco qual vai ser o nome que vão dar? Fim de jogo?

Como começar a ler quadrinhos de super-heróis? – Parte 1

revistas x-men
Coleções – Cuidado com esse vício

Inegavelmente os Super-heróis estão na moda. Quando isso vai passar? Acho que ninguém sabe mas com certeza toda essa quantidade de filmes, séries, animações deve estar deixando muitas pessoas com curiosidade de conhecer o material original: os quadrinhos, ou gibis (cuidado tem alguns fãs de quadrinhos que não gostam desse termo).

Porém o universo dos quadrinhos é um pouco hermético. Pra começar que existem dois principais universos compartilhados (Marvel e DC, cada um com uma editora por trás). Então não, o Homem-aranha não ‘mora’ no mesmo planeta que o Batman, então dificilmente um vai aparecer na história do outro. Fazendo um paralelo com futebol é como se cada um fosse uma ‘liga’. Então assim como o Barcelona não joga no campeonato brasileiro, o Bragantino não joga no campeonato espanhol. Mas se forem feitos acordos entre os donos dos personagens amistosos podem ocorrer mas isso é assunto pra outro texto.

Outra coisa que dificulta um pouco são os fortes toques de fantasia e ficção científica, às vezes misturados. Então nos quadrinhos poderes mágicos podem conviver com alienígenas e viagens no tempo. Isso quando não aparecem alienígenas viajantes do tempo COM poderes mágicos. Embora alguns personagens, como por exemplo o Justiceiro, geralmente tenham histórias mais “pé no chão” (na maioria das vezes), a imaginação é o limite.

Inclusive um outro conceito, comum na ficção científica, presente aqui é o de universos alternativos. Então existem múltiplos planetas Terra e em algumas histórias heróis e vilões passam de um mundo para o outro. Muitas vezes esses mundos são afetados por pequenas mudanças que ao longo do tempo tornam os universos totalmente diferentes (seguindo aquele conceito de que “o bater de asas de uma borboleta pode gerar um furacão no outro lado do mundo”). Por exemplo em uma determinada história somos apresentados à uma versão da história do Batman em que Bruce Wayne é assassinado naquela fatídica noite no beco e é o seu pai que vira o Batman. Mais recentemente com o sucesso de filmes e séries é considerado também que cada série ou filme é um “mundo alternativo”. Por isso que existiriam o Hulk da série da década de 80 e o Hulk mais recente. Teoricamente um dia alguém pode fazer uma história em que eles se encontram. E como em quadrinhos os efeitos especiais tem custo quase zero basta algum roteirista querer.

Crise nas infinitas terras
Crise nas Infinitas Terras – Uma história famosa baseada no conceito de múltiplas “dimensões”

Pra dificultar ainda mais temos o fator do tempo. O Super-homem por exemplo, que geralmente é considerado o super-herói mais antigo foi publicado pela primeira vez em 1938. E os escritores geralmente levam em consideração as histórias anteriores e os acontecimentos históricos passados. Então temos aí, arredondando, praticamente 80 anos de histórias no caso do Super-homem. Histórias publicadas, geralmente, no formato mensal. Então só do Super-homem teríamos um volume gigantesco de histórias. Agora multiplique isso por inúmeros personagens. Esse conjunto de histórias chamamos de cronologia.

Dados esses fatores é natural se sentir meio perdido nesse mar de histórias: qual seriam as mais relevantes? Leio na ordem em que as histórias foram publicadas? Vou na banca e pego a revista com capa mais bonita?

Seguir a ordem cronológica não é uma estratégia que eu recomendo por dois motivos, primeiro que é muita coisa. Segundo que algumas histórias mais antigas não envelheceram muito bem. Alguns conceitos foram se aprimorando ao longo do tempo, como por exemplo, a questão do uso de armas. Em suas primeiras histórias o Batman usava armas (e embora eu não tenha visto ele matando ninguém fica implícito que alguém que saí por aí com uma arma está disposto à usá-la). Mais tarde é que foi sendo trabalhado o conceito de que o Batman não usa arma até mesmo com a justificativa que os seus pais foram assinados com armas. No começo também os vilões eram mais simples, bem e mal eram mais facilmente definidos. Depois que alguns vilões foram ganhando tons de cinza e nem todos tinham motivações tão simples.

Então a minha sugestão é: pegar os personagens que você gostou e procurar ler as histórias mais clássicas deles. Claro que alguns personagens são mais interessantes que os outros. Mas a medida que você for lendo vai ficar mais claro que a qualidade das histórias depende muito dos artistas que as criam. A leitura dos clássicos geralmente possibilita um melhor entendimento das características essenciais de cada personagem. E a medida que você for lendo também vai conhecer os seus roteiristas e desenhistas preferidos.

Esse texto acabou ficando um pouco longo então decidi dividí-lo em duas partes. Na segunda parte vou recomendar alguns clássicos de alguns personagens mais famosos que eu acho que podem servir de ponto de partida pra quem quer começar a ler mas fica se sentindo meio perdido.

PS: Só pra deixar claro que existem diversos outros sub-gêneros de quadrinhos, como os mangas japoneses; os quadrinhos europeus; voltados mais pra crianças como turma da mônica; etc. Procurei enfatizar os quadrinhos norte-americanos de super-heróis por ser o sub-gênero que eu mais consumo e aprecio. Mas essa é só a ponta de um enorme iceberg.

 

[Resenha] Homem-aranha: De volta ao lar

Cartaz do filme Homem-aranha de volta ao lar
Cartaz do filme Homem-aranha de volta ao lar. Créditos da imagem: IMDB

Como primeiro texto desse projeto pensei em fazer o primeiro texto sobre o super-herói mais clássico de todos, o Super-homem, porém o coração falou mais alto e resolvi falar sobre o meu super-herói preferido (aproveitando também que ele teve um filme no cinema recentemenete). Então aqui vai minha opinião sobre “Homem-Aranha: De volta ao Lar”.

Primeiro vamos falar sobre os atores: Tom Holland está muito bem no papel de Homem-aranha. Consegue enganar bem como Peter Parker, um colegial que adquiriu poderes. A atriz Marisa Tomey, que interpreta a tia do Homem-Aranha me incomodou um pouco. Não entendi a escolha de uma atriz tão jovem para o papel. Claro que é condizente com a idade do personagem de Holland mas ainda assim não me convenceu, ficou pra mim no um Q de descrença. O elenco de apoio da escola está OK. Destaque para o amigo Ned de Peter, que não existia nos quadrinhos mas que serviu como um bom alívio cômico no filme. Fica óbvio e até aceitável que tenha havido uma transformação para tornar os coadjuvantes mais diversos do que no original. Particularmente me incomodaram o Flash Tompson, que de bully de Parker passou a ser só um cara chato, e a M.J. que eu acho que foi colocada ali só pros velhacos, tipo eu, cutucarem a pessoa do lado e falarem “M.J. é o nome da mulher do Homem-aranha, quer dizer, isso antes do pacto, mas depois te explico”. Se houver continuação fico curioso com o destino da personagem já que ela não tem nada a ver com a M.J. dos quadrinhos.

Robert Downey Jr. tem bastante tempo de tela no filme. Tempo demais. O que me faz pensar na teoria que eu li por aí que a Marvel queria cansar o personagem para os expectadores a fim de que os mesmos aceitassem a sua morte em um futuro filme dos Vingadores. Considerando o salário alto do ator e que o herói, por usar uma armadura, poderia ser substituído por outro personagem (que continuaria a ser o Homem de ferro) não acho impossível.

Por último mas não menos importante tem a cereja do bolo Michael Keaton como o Abutre. E eu fiquei realmente feliz de como fizeram o uniforme do personagem, ja que o original é beeeem tosco. O ator está muito a vontade no personagem. E o público, sabendo que o ator já fez o Batman e o filme Birdman deixa suas cenas mais divertidas ainda. Além disso o vilão é mais crível que a média e embora não seja perfeito fica como um dos melhores vilões da Marvel até o momento.

O uniforme clássico (e meio tosco) do vilão Abutre
O uniforme clássico (e meio tosco) do vilão Abutre. Créditos da imagem: marvel.wikia.com.

A história em si é relativamente simples: depois da batalha de Nova York, ocorrida no primeiro filme dos Vingadores, ficou sucata de ET espalhada por toda a cidade. Inicialmente uma empresa, cujo dono é Adrian Toomes (o Abutre), é escolhida para limpar a sujeira. Depois os federais percebem que isso pode não ser uma boa ideia e do dia pra noite cassam o contrato de Toomes, deixando ele bolado. Em função disso, ao invés de procurar outro empreendimento como um bom cidadão, o Abutre (fazendo jus ao nome) decide pegar alguns espólios que estavam com ele, fazer um tipo de engenharia reversa na sucate e produzir armas a partir daqueles objetos que depois começam a ser vendidas para ladrões pela cidade. Após impedir um assalto a banco com uns criminosos usando essas armas o Homem-aranha passa a investigar o caso (embora o Homem de Ferro mande ele deixar o trabalho pra outros heróis mais experientes) e isso coloca o Aranha em rota de colisão com o abutre.

Uniforme do vilão Abutre no filme do Homem-aranha. Créditos da imagem: IMDB.

Um diferencial do filme, em relação aos anteriores, foi o uniforme do Homem-aranha. No filme o Homem de Ferro dá um uniforme bem tecnologico pro Homem-aranha (com direito até a assistente virtual) e isso gera algumas cenas bem engraçadas com o Homem-aranha se atrapalhando com as possibilidades do uniforme novo.

O filme é bonito, tem coadjuvantes bons, um vilão interessante …. então é um excelente filme do Homem-aranha? NÃO, porque me parece que faltou um pouco da carga dramática do Homem-aranha. Onde foi parar o Tio Ben e “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”? Analisando superficialmente o Homem-aranha é um herói engraçado e bem com a vida. Mas na origem e no cerne do personagem há pelo menos uma grande tragédia, a morte do seu tio (entre outras ao longo do tempo). Pra quem não se lembra, o Homem-aranha, logo após ganhar os poderes decide usá-los pra ganhar dinheiro (praticamente participando de um UFC da vida). E em um dessas noites, o local onde ele estava lutando é assaltado e ele fala (ou age como quem diz): “antes ele do que eu” e não faz nada pra parar o ladrão, que passa na frente dele. Pouco tempo depois esse mesmo ladrão mata um velhinho em um assalto e ficamos sabendo que esse velhinho era o tio do Homem-aranha (que é praticamente um pai dele já que Peter Parker é orfão). Peter então aprende que “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” e esse vira praticamente o lema do herói. Claro que isso já foi retratado nos outros filmes e não acho que precisava ser mostrado explicitamente no filme novo. O problema é que quase não há referência ao tio de Peter. E dado que o Homem-aranha é retradado como jovem no filme entende-se que isso ocorreu há pouco tempo. Mas isso não influencia de maneira nenhuma a história ou o personagem principal. Em momento algum é retratado Peter Parker com remorso pelo seu tio ou como se tivesse aprendido a grande lição “Com grandes poderes …”. Pelo contrário, Peter é bem irresponsável durante o filme todo e alguns atos do filme é que tentam servir como lição.

Pra mim um dos pontos chave do personagem é que não é fácil ser o Homem-aranha, mas de forma consciente o personagem decide ser o herói MESMO com as dificuldades e por isso mesmo ele é tão inspirador. No cânone do personagem ele salva os seus bullies (Flash Tompson, por exemplo, que foi bastante modificado), perde empregos e oportunidades profissionais e tem problemas diversos com as namoradas (pontualidade nos encontros nunca foi o ponto forte de Peter Parker). Esse Homem-aranha não tem esse peso. Pelo contrário, ele banca o Homem-aranha e tudo fica bem, ou até melhor, por causa disso. Por exemplo na competição de soletrar, Peter quase faz o time perder mas mesmo assim ninguém da equipe fica magoado com ele.

Por causa disso saí do filme com a sensação que vi um ótimo filme de um super-herói genérico. É de se imaginar se o diretor leu pelo menos a história de origem do personagem para descaracterizá-lo dessa maneira. O filme vale o ingresso mas se houvesse um pouco mais de culpa e referências ao tio Ben (e menos Tony Stark) pra mim seria bem melhor.

Bom, essa foi minha opinião sobre o filme, abaixo seguem alguns comentários soltos sobre algumas cenas mais específicas que podem estragar sua experiência se você ainda não viu o filme. Prossiga com cautela.

Spoilers zone

Uma das cenas mais engraçadas do filme pra mim foi aquela em que ele fica preso em um depósito e parece que se passaram horas, até que o Homem-aranha pergunta pra sua assistente quanto tempo passou e ela fala: “20 minutos”. Alias, o filme é bem engraçado. Outra cena bem legal foi aquela que ele fica preso sob escombros e que é referência a uma história clássica onde isso também ocorre. Gostei da referência ao vilão Escorpião (um dos sujeitos que quer comprar armas do Abutre). O Escorpião é um vilão clássico do Homem-aranha que tem um visual muito legal e sempre teve grandes lutas com o Aranha. Só não sei se ele seguraria sozinho um filme inteiro, pois ao menos nos quadrinhos o Escorpião não é nenhum gênio do crime.

Capa da revista do Homem-aranha com a história "Se esse é meu destino ..."
Capa animada da revista do Homem-aranha com a história “Se esse é meu destino …”.

O fato do vilão ser o pai da garota de quem o Peter gosta é um pouco forçada mas rende outra cena ótima que é a cena do carro onde o Abutre descobre que Peter é o Homem-aranha. Pra concluir tem uma coisa me deixou meio em dúvida: Tem uma cena em que o Abutre diz que se o Homem-aranha interferir ele vai ir atrás do Aranha e de toda a família dele e que ele é mau como o pica-pau. No entanto na luta final o Abutre tem pelo menos uma chance de acabar com o seu adversário e não o faz. Além disso, na cena pós-créditos ele não revela a identidade do Homem-aranha. Fiquei me perguntando: foi falha do roteiro/diretor em retratar o vilão ou foi proposital e eles queriam mostrar que no fundo o Abutre não é tãão mal assim?