[Resenha de livro] O Incrível Steve Ditko

A edição conta com uma bela arte de capa

“O Incrível Steve Ditko” é um livro escrito por Roberto Guedes e lançado em 2019. Eu li o livro ano passado e infelizmente me decepcionei um pouco. Mas vamos com calma. Sobre o que se trata o livro?

O livro é uma biografia do desenhista Steve Ditko. Embora não tão famoso o autor é co-criador de ninguém mais, ninguém menos do que o Homem-Aranha. O autor era o desenhista do personagem nos primeiros (e insuperáveis?) primeiros números do personagem. Inclusive, devido ao “método Marvel”, o Aranha tem um certo caráter autobiográfico, o que só deixa o personagem mais interessante.

Mas o que era o “método Marvel”? Bom, resumidamente o Stan Lee passava os argumentos (resumos do que deveria acontecer nas histórias) para os desenhistas que praticamente faziam a história e retornavam as páginas desenhadas para o Stan Lee que preenchia os diálogos. Por isso o papel do Stan Lee na criação dessas histórias na Marvel é bem controverso. E o livro aborda um pouco isso.

Bom, esse é um dos problemas do livro. As pessoas que compram esse livro possivelmente sabem quem é Steve Ditko (que na mídia geral não recebe os merecidos créditos: a morte dele, curiosamente ocorrida no mesmo ano da morte do Stan Lee, passou em branco na mídia não especializada) e portanto já estão carecas de saber sobre o método Marvel. Mesmo assim lá vai o autor explicar o método Marvel. Então acho que em alguns pontos ocorre uma fuga do tópico por parte do autor.

Para quem não sabe, Steve Ditko era um recluso. Embora vivesse em Nova York ele morava sozinho e não deixou filhos. Para se ter noção demorou alguns dias até que as pessoas percebessem que ele morreu e não existem fotos recentes do desenhista na Internet. Até mesmo em função disso eu comprei o livro querendo saber mais detalhes sobre vida e o que pensava o autor. Entretanto o livro acrescenta mas não esclarece pontos importantes para os fãs de quadrinhos:

Por que Steve Ditko se tornou recluso? Afinal, qual a participação de Jack Kirby na criação do Homem-Aranha? – Diz a lenda que o Kirby fez um esboço da aparência do personagem mas que acabou não sendo aproveitado. Mas foi isso mesmo?

E mais importante, qual foi o motivo da briga entre Stan Lee e Steve Ditko? Quando houve a briga as histórias do Aranha estavam vendendo tal qual água. Por que interromper a parceria? Embora o livro apresente várias possibilidades – sendo a mais provável, para mim, a falta de reconhecimento no sucesso do Homem-Aranha – mas não elucida a questão. Talvez porque a questão realmente seja insolúvel já que os principais envolvidos morreram.

Também achei que o livro poderia ter sido melhor editado na questão das imagens. Por ser um livro que fala de quadrinhos obviamente que as imagens do mesmo são muito importantes. Entretanto muitas cenas citadas não são reproduzidas e/ou são reproduzidas páginas adiante – distantes do texto que as citou. Enquanto isso algumas imagens de menor importância são reproduzidas no livro, às vezes sem maiores explicações.

Por exemplo ao mencionar o “The Fly”, um personagem que teria inspirado o Homem-Aranha é reproduzida uma página dupla desses personagem desenhada por Jack Kirby (precisava dessa imagem, ainda mais uma página dupla?)

Mais tarde é usada a capa e mais três páginas de Amazing Spider-Man #33 “Se Esse For o Meu Destino”. Tá certo que a história é uma das melhores do Homem-Aranha, mas 4 páginas (contando com a capa)? Sem nem entrar no ponto que essa história quase com certeza já foi lida, e é bem conhecida, pelo público-alvo desse livro.

Infelizmente fiquei com a impressão que as imagens às vezes são usadas como uma forma de “preencher o livro”. Não contei mas acredito que somente metade do livro é composta por texto. Achei pouco.

Então aparentemente Roberto Guedes fez o que pode, mas para mim a tentativa ficou um pouco abaixo das expectativas. Embora talvez minha crítica tenha soado excessivamente negativa o livro trás sim informações que eu não sabia sobre o autor e principalmente agrega praticamente tudo que existe sobre ele em um único lugar. O que para consulta é uma mão na roda.

Além disso preciso dizer que o texto de Roberto Guedes é muito leve, de maneira que a leitura flui muito bem. Acho que eu li o livro em dois ou três dias.

O livro parece ter sido feito, por encomenda, para pegar o embalo de outro livro do autor que trata do (também desenhista) Jack Kirby. Infelizmente não pude ler este livro anterior mas já ouvi falar bem do mesmo. Suspeito que Steve Ditko era tão recluso que não existe material o suficiente, principalmente em fontes secundárias, para uma biografia parruda do mesmo. Talvez daqui há alguns anos mais conteúdo apareça.

Recomendo o livro somente para aqueles que são muito fãs do Homem-Aranha e querem saber um pouco mais sobre a (principal?) mente por trás dos ótimos primeiros números do personagem. Ou então se achar em uma promoção já que o preço (R$60,00 no momento de escrita deste texto) parece um pouquinho salgado considerando o conteúdo e acabamento do livro.

Se você tiver interesse mas não quiser gastar existe o documentário feito pela BBC “In search of Steve Ditko” (2007) que é possível encontrar (sem legendas – pelo que eu procurei) no YouTube:

Pequeno spoiler do documentário: Eles (o apresentador do documentário em conjunto com Neil Gaiman) até encontraram pessoalmente com Steve Ditko mas o desenhista não aceitou ser filmado ou dar alguma declaração (se não me falha a memória – faz um tempinho que assisti).

Para finalizar, como diria o Tio Ben: “Com Grandes Expectativas Vem Grandes Responsabilidades”.

Guerra Infinita (contra o Corona)

Por mais clichê que seja dizer, às vezes a vida imita a arte. Quem poderia imaginar que, em 2018, iriamos ao cinema ver pessoas sumindo sem nem direito a um enterro decente devido a um estalar de dedos para logo em seguida, também em um “estalar de dedos” observarmos, dessa vez na vida real, pessoas sumindo e depois não tendo nem direito a um velório.
E o pior de tudo é que, na nossa realidade, não podemos voltar no tempo e trazer as pessoas de volta. Não tem volta. Aqui a realidade foi mais cruel que a ficção. Quando voltarmos para nossas vidas alguns não estarão lá simplesmente. Diferente da ficção também não existe um claro culpado. Existe no máximo suspeitos (vírus em laboratório?), irresponsáveis que só pioraram tudo e aproveitadores (aos montes). Porém aqui não existe um alien roxo louco onde podemos descarregar nossas frustrações.
Uma parte de mim tenta ver o lado bom, como aprender a valorizar as coisas simples (e importantes) da vida, ou uma diminuição de mortes no trânsito. Mas não é tão simples.
https://www.youtube.com/watch?v=3H-vvLB-LAQ
“Se você falar sobre o lado bom eu vou atirar um sanduíche em você”
Como sociedade, falhamos em prevenir o problema.
Marvel Studios’ AVENGERS: ENDGAME..Tony Stark/Iron Man (Robert Downey Jr.)..Photo: Film Frame..©Marvel Studios 2019
Não por falta de aviso.
https://www.youtube.com/watch?v=6Af6b_wyiwI
Bill Gates no TED falando sobre o risco de uma pandemia global
Mas essa guerra, que parece infinita, vai passar … Uma hora vai terminar.
https://www.youtube.com/watch?v=w2pxnpArd5A
“Não me dê esperança”
Porém o final também vai deixar um gosto amargo pela saudade dos que não estarão lá conosco para comemorar.
Dedicado a todos que se foram, em especial minha prima Larissa Hax, e aos que ainda vão nos deixar devido a pandemia.

Como começar a ler quadrinhos de super-heróis? – Parte 1

revistas x-men
Coleções – Cuidado com esse vício

Inegavelmente os Super-heróis estão na moda. Quando isso vai passar? Acho que ninguém sabe mas com certeza toda essa quantidade de filmes, séries, animações deve estar deixando muitas pessoas com curiosidade de conhecer o material original: os quadrinhos, ou gibis (cuidado tem alguns fãs de quadrinhos que não gostam desse termo).

Porém o universo dos quadrinhos é um pouco hermético. Pra começar que existem dois principais universos compartilhados (Marvel e DC, cada um com uma editora por trás). Então não, o Homem-aranha não ‘mora’ no mesmo planeta que o Batman, então dificilmente um vai aparecer na história do outro. Fazendo um paralelo com futebol é como se cada um fosse uma ‘liga’. Então assim como o Barcelona não joga no campeonato brasileiro, o Bragantino não joga no campeonato espanhol. Mas se forem feitos acordos entre os donos dos personagens amistosos podem ocorrer mas isso é assunto pra outro texto.

Outra coisa que dificulta um pouco são os fortes toques de fantasia e ficção científica, às vezes misturados. Então nos quadrinhos poderes mágicos podem conviver com alienígenas e viagens no tempo. Isso quando não aparecem alienígenas viajantes do tempo COM poderes mágicos. Embora alguns personagens, como por exemplo o Justiceiro, geralmente tenham histórias mais “pé no chão” (na maioria das vezes), a imaginação é o limite.

Inclusive um outro conceito, comum na ficção científica, presente aqui é o de universos alternativos. Então existem múltiplos planetas Terra e em algumas histórias heróis e vilões passam de um mundo para o outro. Muitas vezes esses mundos são afetados por pequenas mudanças que ao longo do tempo tornam os universos totalmente diferentes (seguindo aquele conceito de que “o bater de asas de uma borboleta pode gerar um furacão no outro lado do mundo”). Por exemplo em uma determinada história somos apresentados à uma versão da história do Batman em que Bruce Wayne é assassinado naquela fatídica noite no beco e é o seu pai que vira o Batman. Mais recentemente com o sucesso de filmes e séries é considerado também que cada série ou filme é um “mundo alternativo”. Por isso que existiriam o Hulk da série da década de 80 e o Hulk mais recente. Teoricamente um dia alguém pode fazer uma história em que eles se encontram. E como em quadrinhos os efeitos especiais tem custo quase zero basta algum roteirista querer.

Crise nas infinitas terras
Crise nas Infinitas Terras – Uma história famosa baseada no conceito de múltiplas “dimensões”

Pra dificultar ainda mais temos o fator do tempo. O Super-homem por exemplo, que geralmente é considerado o super-herói mais antigo foi publicado pela primeira vez em 1938. E os escritores geralmente levam em consideração as histórias anteriores e os acontecimentos históricos passados. Então temos aí, arredondando, praticamente 80 anos de histórias no caso do Super-homem. Histórias publicadas, geralmente, no formato mensal. Então só do Super-homem teríamos um volume gigantesco de histórias. Agora multiplique isso por inúmeros personagens. Esse conjunto de histórias chamamos de cronologia.

Dados esses fatores é natural se sentir meio perdido nesse mar de histórias: qual seriam as mais relevantes? Leio na ordem em que as histórias foram publicadas? Vou na banca e pego a revista com capa mais bonita?

Seguir a ordem cronológica não é uma estratégia que eu recomendo por dois motivos, primeiro que é muita coisa. Segundo que algumas histórias mais antigas não envelheceram muito bem. Alguns conceitos foram se aprimorando ao longo do tempo, como por exemplo, a questão do uso de armas. Em suas primeiras histórias o Batman usava armas (e embora eu não tenha visto ele matando ninguém fica implícito que alguém que saí por aí com uma arma está disposto à usá-la). Mais tarde é que foi sendo trabalhado o conceito de que o Batman não usa arma até mesmo com a justificativa que os seus pais foram assinados com armas. No começo também os vilões eram mais simples, bem e mal eram mais facilmente definidos. Depois que alguns vilões foram ganhando tons de cinza e nem todos tinham motivações tão simples.

Então a minha sugestão é: pegar os personagens que você gostou e procurar ler as histórias mais clássicas deles. Claro que alguns personagens são mais interessantes que os outros. Mas a medida que você for lendo vai ficar mais claro que a qualidade das histórias depende muito dos artistas que as criam. A leitura dos clássicos geralmente possibilita um melhor entendimento das características essenciais de cada personagem. E a medida que você for lendo também vai conhecer os seus roteiristas e desenhistas preferidos.

Esse texto acabou ficando um pouco longo então decidi dividí-lo em duas partes. Na segunda parte vou recomendar alguns clássicos de alguns personagens mais famosos que eu acho que podem servir de ponto de partida pra quem quer começar a ler mas fica se sentindo meio perdido.

PS: Só pra deixar claro que existem diversos outros sub-gêneros de quadrinhos, como os mangas japoneses; os quadrinhos europeus; voltados mais pra crianças como turma da mônica; etc. Procurei enfatizar os quadrinhos norte-americanos de super-heróis por ser o sub-gênero que eu mais consumo e aprecio. Mas essa é só a ponta de um enorme iceberg.